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'Um Lugar Silencioso: Parte II' é uma intensa parábola dos tempos de crise | 2021

NOTA 10

A humanidade em meio ao caos

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Assistir 'Um Lugar Silencioso: Parte II' é um exercício intrigante de revisita ao velho normal, seja pela memória da época do lançamento do primeiro filme (2018) ou pelo modo como essa obra se abre, quase que como um paralelo ao que experimentamos em 2020 e a realidade que vivemos hoje em dia. Toda tragédia tem um começo, e a calmaria antes da tempestade se mostra aqui com a simplicidade de uma ocasião corriqueira, em um prólogo que retorna ao primeiro dia antes do fim da normalidade que se interrompeu com a chegada das criaturas sensíveis ao som. A noção do "comum" é quebrada, então, com o retorno abrupto aos eventos que encerraram o primeiro filme, e o contraste nítido do estilo de vida evidencia o quanto o próprio conceito de "viver" - outrora tão simples e prático - sofreu uma drástica mutação. Porém, por mais incrível que seja, tal semelhança com o mundo do período Covid-19 é apenas mera coincidência, uma vez que a produção se encerrou antes de o vírus mortal se disseminar pelo mundo real. Com isso, o novo filme dirigido por John Krasinski cabe perfeitamente como uma alegoria parabólica à nossa complicada realidade, mesmo sem querer ser.

É curioso notar como a necessidade e o instinto de sobrevivência movem as pessoas. Contudo, é mais curioso ainda perceber que é das crises que surgem heróis improváveis, dispostos a se sacrificar por um bem maior - e é exatamente sobre esse ímpeto que 'Um Lugar Silencioso: Parte II' se trata, da humanidade sutil que é pensar nos outros e se doar por eles. Desse modo, o filme construiu-se como um prenúncio ao período da pandemia, como se soubesse a crise que o mundo real enfrentaria e apontasse um caminho de cooperação para passar por ela. A fábula de horror criada por Krasinski tem como principal atributo o fator humano, que é em seu roteiro engenhoso e ousado, é claro, mas a realização e o sucesso do projeto provém do talento gigantesco do elenco majestosamente escolhido. Além dos retornos de Emily Blunt, Noah Jupe e Millicent Simmonds (sendo esses dois últimos as grandes estrelas e o coração do filme) compondo o núcleo principal da família Abbott (e de John Krasinski, que retorna ao seu personagem na cena do prólogo), temos aqui um acréscimo notável ao elenco; Cillian Murphy desempenha uma atuação feroz e sensível, construindo uma aura de mistério que vai se desmistificando com expressões mínimas em suas feições e gestuais. Com eles, Krasinski toma os elementos sonoros dos filmes de terror e os eleva à enésima potência, arrancando de seus talentos o sumo do temor à morte.

Não restam dúvidas de que 'Um Lugar Silencioso' já se estabeleceu como um clássico moderno, e seu feito dificilmente será superado. Como um espelho sensorial ao clássico 'Jurassic Park' (1993), de Steven Spielberg, a segunda metade do filme é uma belíssima aula de como explorar a tensão do público em uma crescente de ameaças tangíveis, culminando em uma mensagem coerente em prol do espírito de cooperação. Com uma linguagem clara e direta (mas provavelmente não intencional por parte de seu criador), o filme reforça a necessidade do isolamento para evitar a praga que se dissemina, principalmente no que consiste à desumanização inerente ao colapso das estruturas sociais. E como uma sinfonia dolorosa e valente, o filme termina mostrando o inevitável amadurecimento que se consolida em tempos de crise. A necessidade de ser forte está para a família Abbott da mesma forma que está para nós, com a diferença que a nossa crise está cada dia mais perto do fim. 

Com isso, termino reforçando a orientação para que todos se vacinem, pois só assim as novas variantes perderão força e as cidades não voltarão a ser os lugares silenciosos, de ruas vazias e comércios fechados, como se viu em março de 2020, quando o filme deveria ter estreado originalmente.


Super Vale Ver!




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