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'A Lenda de Candyman': Sequência coloca a temática social em primeiro plano com um terror atmosférico e envolvente | 2021

NOTA 7.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O cinema em toda sua riqueza produziu gêneros e subgêneros desde seu nascimento, e um dos mais repetidos e explorados foram os Slashers, que apesar do surgimento datar de meados da década de 70 com os famosos 'O Massacre da Serra Elétrica' e 'Halloween', foram nas duas décadas seguintes que surgiram seus maiores ícones como Jason, Freddy Krueger, Chucky e a franquia Pânico -  inspirado nos famosos ‘Giallos’ italianos cujo enredo envolve assassinatos em série e um criminoso misterioso, quase sempre utilizando máscara e armas com lâminas afiadas. 


Devido à longevidade dos slashers e a quantidade de obras lançadas, muitos não alcançaram o reconhecimento merecido, como o subestimado 'O Mistério de Candyman', lançado em 1992 que por sua vez introduziu o conceito de lenda urbana na fórmula que já se mostrava saturada. Baseado no conto “The Forbidden” de Clive Barker, mesmo autor de Hellraiser, a história rompe com a tradição ao apresentar um vilão enigmático e sedutor, além de inserir comentários sociais relevantes até hoje, como o racismo e a miscigenação. Junte isso a uma narrativa cheia de bons diálogos aliado ao ótimo roteiro e temos uma obra reflexiva, envolvente e muito à frente do seu tempo.

Após duas péssimas sequências, a mitologia de Candyman ganha um novo capítulo com 'A Lenda de Candyman', que para nossa sorte descarta as versões de 95 e 99, dando continuidade a história original. Produzido por Jordan Peele, que também assina o roteiro, e dirigido por Nia DaCosta, a trama respeita suas origens, mas insere novos elementos acrescentando camadas à critica social proposta, ligando seu argumento a acontecimentos recentes e questões estruturais dos EUA.

Na trama acompanhamos Anthony McCoy (Yahya Abdul‑Mateen II), um artista visual que vive na cidade de Chicago com sua namorada Brianna Cartwright (Teyonah Parris), diretora de uma galeria e figura respeitada no meio artístico. Tentando encontrar uma nova inspiração para seu trabalho, McCoy vai em busca do passado de Cabrini-Green até se deparar com a Lenda de Candyman, gerando uma série de acontecimentos trágicos envolvendo o misterioso assassino.

Por se tratar de uma sequência as comparações são inevitáveis, de modo que mesmo respeitando sua base, a narrativa propõe mudanças que podem não agradar já que descartam elementos pré-estabelecidos. Outra mudança é a abordagem que antes partia de um ponto de vista acadêmico, e agora se desloca para o meio artístico, explorando novas perspectivas, que a princípio muito colaboram para a crescente atmosfera de loucura e paranoia, muito bem conduzida na ótima interpretação de Yahya Abdul-Mateen.

O ponto fraco fica por conta da figura do Candyman, que carece do mesmo apelo do original eternizado por Tony Todd, com sua voz e presença marcantes. O personagem em sua nova versão é trabalhado em maior parte do tempo nas sombras, restando como objeto de temor apenas sua brutalidade e onipresença. A cidade como recurso narrativo também perde força pela pouca exploração das locações, e se no primeiro Cabrini-Green era quase um personagem à parte, aqui é um local como qualquer outro.

A utilização do teatro de sombras para recapitular os acontecimentos passados são eficientes e muito inventivos, assim como todo o uso de sombras e espelhos ao longo da rodagem, com especial destaque para as cenas de assassinato que utilizando desses dois recursos, muitas vezes combinados, apresentam um bom efeito visual sem soar apelativo, com enquadramentos que nos colocam como testemunha ocular dos crimes.

O terceiro ato destoa dos anteriores, descarta o tom contemplativo e dá agilidade nas resoluções e novas descobertas, com isso o argumento principal ganha forma através de uma crítica social que contribui para a força necessária da conclusão. 'A Lenda de Candyman' talvez possua um discurso superior a sua execução, e as intenções de um filme definitivamente não o tornam melhor ou pior, e com erros e acertos o novo longa tem alto valor de entretenimento para os fãs do gênero, abre espaço para discussões e reflexões atemporais e de grande impacto no cinema e na sociedade. 


Vale Ver!



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