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'Beckett': uma variação que revitaliza o thriller do “homem errado” | 2021

NOTA 7.0

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme 

O que "Beckett" tem de mais atraente é a forma como o diretor Ferdinando Cito Filamarino (“Antônia” – 2015) encena a construção do herói improvável vivido por John David Washington no que tange, principalmente, à sua movimentação.

Numa trama que remete a obras hitchcockianas como as duas versões de "O Homem Que Sabia Demais" (1934 e 1956, respectivamente) e "Intriga Internacional" (1959), ou de suas inúmeras crias como "O Fugitivo" (1993), o tal "homem errado em hora e lugar errados" está bem mais humanizado: ele não é sarado, é acometido por ataques de pânico, corre cambaleando, golpeia de modo desengonçado em lutas que não soam coreografadas e chega a tomar uns tapas de uma motociclista em cena claramente concebida para subverter um clichê do gênero... tudo o mais próximo possível do que seria – dentro, claro, dos parâmetros de um suspense hollywoodiano -, caso aqueles acontecimentos ocorressem com uma pessoa normal e não com um ser especial que adquire habilidades instantâneas ao menor sinal de perigo.

Embora não consiga driblar uma ou outra conveniência e traga alguns personagens que são forçadamente enfiados em momentos-chave da história, como a ativista interpretada por Vicky Krieps, o roteiro de Kevin A. Rice esforça-se no intuito de tornar crível o uso da crise econômica que se abateu sobre a Grécia em 2010 - repare no retrato de Barack Obama na embaixada dos EUA - para mostrar como partidos de extrema direita atuam na criação do caos, valendo-se geralmente do tal fantasma comunista, para desestabilizar governos.

Em tempos de super-heróis e assassinos imbatíveis, esse projeto produzido por Luca Guadagnino ("Me Chame Pelo Seu Nome" – 2017) se apresenta como um título bastante interessante no catálogo da Netflix justamente por renovar o nosso gosto por thrillers que coloquem pessoas razoavelmente comuns (que tremem, que choram, que tropeçam e que até pagam cofrinho!) passando perrengue longe de casa, em situações cuja a importância de gestos instintivos, visando à sobrevivência, aos poucos se tornam fundamentais em contextos bem mais amplos.


Vale Ver!



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