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'Homem Onça' : as transformações na vida e corpo de um homem comum | 2021

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

O novo filme de Vinícius Reis ('A Cobra Fumou' -2002), por assim dizer, se encaixa na prateleira de obras autobiográficas do cineasta, pois é baseado na privatização da Vale do Rio Doce, que teve como uma das vítimas da drástica mudança, seu pai, um gerente que foi obrigado a se aposentar. Podia ser só ficção, ou coisa do passado, mas 'Homem Onça', um dos destaques do Festival de Cinema de Gramado e que chega na próxima semana às salas, é uma realidade que ainda assombra muitas famílias por conta das políticas do governo atual. 


O longa acompanha dois momentos da vida de Pedro (Chico Diaz). No primeiro, em 1997, ele vive com a família no Rio de Janeiro e trabalha na Gás do Brasil, uma empresa que está passando por um duro processo de reestruturação, com demissões e aposentadorias antecipadas. Em breve, virá a privatização. No segundo momento, em 1999, Pedro já está aposentado na pequena Barbosa, sua cidade natal, na companhia de uma nova namorada e das memórias de infância. 

Ao entrelaçar esses dois períodos de tempo - que graças a afinada direção de Reis não se prende a detalhar o que aconteceu nesse intervalo de vida -, atravessamos a pele de Pedro e vemos com clareza seus medos, e também aquilo que o encanta, como a música, a paz e o verde. As transformações pelas quais o personagem passa são imprimidas em seu corpo como as manchas da onça, numa criativa analogia ao felino - um animal muito comum na nossa fauna - que exprime ferocidade para se defender e defender os seus, e  inteligentemente  também sabe a hora de se refugiar por entre os arbustos para não virar caça de homem mau. No caso de Pedro o refúgio remetia o retorno às origens.

Se cinema promove debate, nada mais certeiro do que trazer esse assunto num momento em que as investidas nas privatizações dos Correios e do Banco do Brasil são a bola da vez. Vinícius Reis, com perspicácia, promove a discussão com ares discretos. Sabe que pra fazer um filme politico não necessariamente é preciso ser direto ou literal. O melhor de 'Homem Onça' está na mensagem de resistência que o protagonista deixa para o público. Ser sereno, se adaptar e seguir com a vida também é resistir. 

A trama de Vinícius Reis alia contexto histórico, olhar crítico sobre os desmandos políticos da nação e performances deliciosas para surgir como o grande a ser batido entre os demais concorrentes do Festival de Cinema (e da resistência) de Gramado esse ano. 


Vale Ver!



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