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'Mundo em Caos' : narrativa é o caso da famosa ideia inovadora que derrapa nos excessos | 2021

NOTA 6.5

Por Rogério Machado

Que tal se todos os seus pensamentos fossem ouvidos (e vistos!) por outras pessoas? Estranha a sensação, com toda certeza... e na certa uma boa premissa, independente do gênero. Aqui temos uma ficção, ao melhor estilo pós apocalíptico, (ou seria futuro distópico?) que tem um visual interessante - como um híbrido entre western e filmes de espaço - e não fosse algumas incongruências, seria uma das novas sensações do ano. Deu no que deu: 'Mundo em Caos', entrou em cartaz no Brasil no meio de um abre e fecha de salas, e com a má repercussão mundial, o longa passou despercebido mesmo com um grande elenco envolvido. 


A trama se passa em um futuro não muito distante, (pouco mais de 200 anos à frente), em um mundo onde as mulheres foram dizimadas  e os homens foram afetados pelo "ruído" – uma força que deixa seus pensamentos em alto e bom som para todos à volta - Todd Hewitt (Tom Holland) encontra Viola (Daisy Ridley), uma jovem misteriosa que aterrissou em seu planeta. Com Viola sendo perseguida pelo prefeito David (Madds Mikkelsen) e toda a comunidade, Todd fica com a responsabilidade de levá-la para bem longe dali. Para salvá-la, Todd terá que controlar seu "ruído", descobrir sua própria força e desvendar todos os segredos sombrios que seu planeta e seu povoado guardam.

As mulheres foram extintas, e a razão disso, (embora haja um desdobramento no segundo ato que explica como tudo se deu), soa inconsistente e tacanha. Um mundo sem mulheres em função de uma fraqueza (o tal 'ruído') dos homens inevitavelmente acaba caindo num contexto machista. A ditadura da testosterona num lugar onde o homem é o centro de tudo (o personagem de Mikkelsen repete isso como um mantra em diversos momentos) com toda certeza está entre os principais incômodos gerados pela narrativa. O tom maniqueísta imposto por Mikkelsen é equivocado - pela primeira vez desgosto de um personagem vivido pelo sempre impecável ator dinamarquês que caiu nas graças de Hollywood. 

A religiosidade cega, que usa Deus para impor regras e corroborar o discurso de ódio, é também representada através da também problemática participação de David Oyelowo, que vive um pastor,  numa sucessão de equívocos que, apesar da proposição do debate, não surte o efeito desejado - talvez pela ausência de sequências que nos conectem melhor com esse discurso. Os embates entre o pastor e o protagonista não saem do campo da ação frenética e meia dúzia de versículos jogados ao vento.  

Na trama, as mulheres teriam sido mortas pelos Sparkles, espécies alienígenas que habitam o chamado novo mundo. É também onde reside outro ponto melindroso do roteiro, onde de uma hora para outra eles são simplesmente esquecidos. Apesar das sequências onde eles mostram a cara através de competentes efeitos especiais, na conclusão, eles acabam representando um adereço de luxo e ao mesmo tempo desnecessário para a trama. Uma espécie de despiste para o espetador. Porém, mesmo com tantas falhas, a experiência se torna positiva por conta dos traços originais da obra. De tudo que já vimos em Sci-Fi, 'Mundo em Caos' ainda consegue apresentar uma proposta inovadora.... e é mesmo uma pena que a mensagem tenha se perdido para dar lugar a ação pura e simples. 


Vale Ver Mas Nem Tanto! 



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