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O humor agridoce da contemporaneidade melancólica em 'Shiva Baby' | 2021

NOTA 9.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica

Dirigido e roteirizado pela estreante Emma Seligman e protagonizado pela também estreante Rachel Sennott, 'Shiva Baby' é uma adaptação de um curta-metragem produzido pela diretora em 2018. Apesar de repetir a premissa, a cineasta aproveita o maior tempo de rodagem para melhor desenvolver conflitos que, no mínimo, merecem reconhecimento por sua coragem, já que utiliza do humor como crítica social sem soar pretensiosa ou afetada.

Na trama acompanhamos Danielle, uma jovem universitária que muito a contragosto vai a um encontro familiar no período da Shivá, tradição judaica que tem início após o enterro de um membro da comunidade. No local se depara com seu “sugar daddy” (termo utilizado para homens mais velhos que sustentam meninas em troca de companhia e sexo) além de uma ex-namorada, Maya, com quem tem assuntos do passado a tratar. Como se não bastasse, a protagonista encara questionamentos familiares muito comuns e de fácil identificação, incluindo sua condição física, estudos, relacionamentos e carreira. Estabelecidos os conflitos, o filme nos joga em um turbilhão sensorial tão cômico quanto melancólico.

No melhor estilo “Fleabag”, o roteiro trabalha com diálogos dinâmicos e dá muito foco nas expressões faciais, em especial da protagonista, que tem a maior parte de suas cenas internas filmadas em planos fechados, aliado a um trabalho de som que convence ao propor uma atmosfera claustrofóbica e pouco convidativa, contrapondo o ambiente familiar em que se encontra. A trilha sonora se mostra igualmente eficaz com batidas pontuais que, mesmo repetitivas, auxiliam nos momentos de desconforto e constrangimento, dois grandes pilares que dão o tom até o último dos poucos 77 minutos de filme. 

A riqueza temática é notável. Passamos por temas centrais como sexualidade e independência, mas o filme ainda se arrisca em comentários breves, mas igualmente fortes como distúrbios alimentares, gênero, maternidade, traição e religião. Este último é desenvolvido com todas as particularidades da identidade cultural judaica, nunca se limitando aos clichês e caindo na crítica vazia ou caricata.

Recém inserido no catálogo da Mubi, 'Shiva Baby' nasce como um clássico contemporâneo cuja força de sua sutileza nos apresenta um caos ordenadamente construído que culmina em um desfecho econômico e eficaz, mantendo a coerência narrativa sem perder a sensibilidade artística. 


Super Vale Ver!



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