Cry Macho e a desconstrução de um mito | 2021
NOTA 10
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Poucos são os diretores que podem descrever suas carreiras como Clint Eastwood, seja em quantidade ou qualidade. No alto de seus 91 anos de idade, o cineasta continua sua obra olhando adiante como quem ainda tem muito a dizer e aprender, e de fato, em 'Cry Macho' ele mantém a trajetória iniciada em 'Gran Torino' onde sua persona, muito associada a figura de virilidade, é ressignificada propondo assim uma discussão sobre masculinidade e seu papel no cinema.
No longa acompanhamos Mike Milo (Clint Eastwood), uma ex-estrela de rodeios e ex-domador de cavalos que após um período difícil recebe o pedido de um amigo para resgatar seu filho no México, onde supostamente estaria sendo alvo de maus tratos. Após chegar ao local, Mike conhece Rafo (Eduardo Minett), um menino rebelde que vive nas ruas fugindo dos capangas de sua mãe e tentando sobreviver tendo como melhor amigo seu galo, Macho.
Com roteiro adaptado de um livro de mesmo nome, a narrativa tem início em tom contemplativo, porém, se permite certa objetividade ao estabelecer a premissa de forma breve a partir de recursos visuais, seja em sequências mostrando quadros e fotos antigas, seja pela evidente decadência dos locais e dos personagens. Apesar de ir direto ao ponto em seu primeiro ato, a trama pisa pouco tempo depois, onde ela se desenrola como um ‘roadmovie’ tradicional, mantendo seus protagonistas em primeiro plano, fortalecendo seus vínculos e em igual proporção, nosso engajamento.
O filme progride entre momentos leves e outros mais dramáticos, quase sempre relacionados a interação com a comunidade local, em especial com a personagem Marta (Natalia Traven) com quem Mike e Rafo desenvolvem uma relação de afeto, cada um a sua maneira, mas sua presença estabelece uma ruptura tanto na obra quanto na filmografia do diretor, dando uma nova camada na forma como aborda a figura feminina, ressaltando e dando o devido destaque na força e relevância do contexto social em questão.
Provido de um senso crítico incomum para grandes estrelas de Hollywood, Clint é um artista em constante evolução e desconstrução, uma lenda viva que fez e faz história no cinema. Um homem que imprime em sua arte a sua essência, entregando projetos extremamente pessoais, carregados de alma, sempre com algo novo a se dizer. Vida longa mestre!
Super Vale Ver!
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