Os reflexos de uma sociedade patriarcal e vil em 'Filho-Mãe' | 2021

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

O cinema do Iran é celeiro de histórias que  não só exaltam a cultura como também desnudam os inúmeros desafios sociais, comportamentais e morais daquele lugar. Não raramente são temas espinhosos que desafiam nosso entendimento, principalmente porque somos tão diferentes culturalmente falando. 'Filho-Mãe', que chegou recentemente à um número restrito de salas com distribuição da Imovision, é mais um drama tão potente que nos divide entre diversas sensações, que vão da ternura até a irremediável revolta. 

No longa acompanhamos a história de Leila (Raha Khodayari), uma mãe solteira que trabalha duro para sustentar seus dois filhos num Irã em plena crise. Ela tem a oportunidade de melhorar sua vida financeira, caso aceite o pedido de casamento de Kazem. O problema é que, para se casar, ele exige que ela não leve junto seu filho Amir (Mahan Nasiri) para dividir o mesmo teto, pois ele tem uma filha e a tradição desaprova uma jovem compartilhando a casa com seu meio-irmão. Quando Leila é demitida, ela decide aceitar o pedido de casamento e deixa Amir sob os cuidados de um internato, até encontrar uma solução para trazê-lo de volta para casa.

Leila já vinha sofrendo com falácias, principalmente no trabalho, em virtude de ser uma mulher sem marido e cuidando de duas crianças. A cultura patriarcal, que beira ao doentio, é o ponto de debate no longa de Mahnaz Mohammadi, mas quando pensamos que a trama seguirá um curso habitual - pesando a mão na crítica aos costumes locais - é aí que o realizador nos surpreende ao acompanhar todo imbróglio sob o olhar atento de uma criança - nesse momento a narrativa toma pra si sua verve mais dramática, ainda que se reserve ao direto de breves alívios por toda ingenuidade que permeia esse universo. 

Amir (interpretado com grande competência pelo jovem Mahan Nasiri) ostenta um olhar distante e frio, mas ao mesmo tempo é capaz de provocar piedade no espectador. O ator assume o peso de uma história que, ainda que desenrole em segundo plano ali pelo terceiro ato, deixa claro mais uma vez como a situação da mulher naquela sociedade ainda precisa de atenção e do precioso debate e denúncia que o cinema pode gerar.                 

'Filho-Mãe' é uma implacável e comovente história sobre separação, punição e o cerceamento da liberdade da mulher numa cultura arcaica e patriarcal. 

Vale Ver!