Misturando o belo e o grotesco, 'A Lenda do Cavaleiro Verde' subverte a jornada do herói em um épico nada tradicional | 2021
NOTA 9.5
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
A A24 vem se destacando nos últimos anos por alinhar a proposta de um cinema independente, de muita liberdade criativa com um excelente padrão de qualidade. Com isso, a companhia vem revelando e dando espaço a jovens cineastas antes não tão conhecidos, dentre eles, David Lowery que alcançou destaque na crítica em 2017 após dirigir e roterizar ‘A Ghost Story’, um drama atmosférico cheio de mistérios e simbolismos. Agora também como produtor, Lowery repete a parceria revisitando as lendas arthurianas em um épico medieval de fantasia. Em 'The Green Knight' (no original) ele mantém os elementos já apresentados na obra anterior, como a riqueza dos símbolos e muita metalinguagem, o que o torna uma experiência extremamente criativa, porém, igualmente restritiva.
O filme tem início quando Sir Gawain (Dev Patel), cavaleiro da távola redonda e sobrinho do Rei Arthur, aceita o desafio do lendário Cavaleiro Verde e precisa encarar uma jornada cheia de mistérios em busca de seu destino.
O longa ganha relevância por sua originalidade já que, apesar de ter roteiro adaptado de um conto do século XIV, é nítido e notável a subversão da clássica jornada do herói, colocando em destaque não só a notoriedade e proeminência do protagonista, muito comum em filmes do gênero, mas também seus medos e fraquezas, ampliando a percepção e o debate sobre temas como honra, virtude e coragem.
Dev Patel está ótimo, e essa é provavelmente a melhor interpretação de sua carreira, conseguindo dar ao personagem reações autênticas nos mais diversos acontecimentos, do espanto até a euforia, dessa forma evidenciando seus dilemas e colaborando com a formação de um protagonista humanizado que caminha para o desconhecido.
A construção de mundo é uma das melhores dos últimos anos. Com composições visuais fantásticas, os cenários impressionam ao nos apresentar um mundo grandioso com uma beleza presente nos mínimos detalhes. O trabalho de cores também merece destaque, em especial para a cor verde, que possui grande importância para a narrativa. O belo e o grotesco estão presentes, por vezes perfeitamente alinhados no mesmo enquadramento, feito de forma tão eficiente que seu contraste não permite a estranheza, apenas o encanto. Também vale mencionar o incrível trabalho de figurino e maquiagem, principalmente do Cavaleiro Verde.
A trilha sonora é um tanto obvia, mas muito bem encaixada, com ótimo uso de cânticos que auxiliam na atmosfera mística da trama. Os diálogos são cheios de metáforas ditas por personagens que se apresentam, mas não se revelam, suas intenções e desígnios poucas vezes são explicitados, mais uma vez priorizando o caráter subjetivo e lúdico do enredo.
Para um público que espera uma trajetória épica tradicional, 'A Lenda do Cavaleiro Verde' definitivamente não vai agradar. É uma experiência de nicho destinada a um público não tão casual, mas apesar de restritivo, é um filme memorável que com certeza será lembrado nas próximas premiações.
Super Vale Ver!
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