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A arte de entender a morte no mexicano 'Filho das Monarcas', em cartaz na Mostra SP | 2021

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

'_ Simón, uma pessoa morta pode continuar respirando?  _ Não, porque quando uma pessoa morre ela deixa de existir. _Simón, quando se deixa de existir? _Quando seu corpo desaparece e só sobra sua alma, mas depois disso, sua alma vai pro céu. _E como se vai pro céu?  _Num elevador. _Simón, onde esse elevador está conectado? _ No céu  _Nossos pais tomaram esse elevador?  _Sim, Mendel.'

Esse diálogo entre dois irmãos ainda bem pequenos, logo na abertura de 'Filho das Monarcas', um dos destaques da Mostra SP esse ano, traduz bem a delicadeza imprimida na direção de Alexis Gambis (I) para tratar sobre a morte e suas dores. O longa mexicano narra o drama da separação desses dois irmãos e como eles lidaram com as perdas ao longo dos anos. 

A história tem seu início após a morte da avó desses meninos, depois de muitos anos, com ambos adultos e com vidas que tomaram rumos muito diferentes: Simón, mais apegado às suas raízes,  preferiu no ficar no México e construir uma grande família. Já Mendel é um jovem biólogo que vive em Nova York e retorna à sua cidade natal, situada nas majestosas florestas de borboletas-monarcas de Michoacán.  Essa jornada de retorno para o lugar que provocou marcas profundas em sua vida, o obriga a enfrentar traumas do passado e a refletir sobre sua nova identidade híbrida, lançando-o em uma metamorfose pessoal e espiritual.

O roteiro, também de Gambis, nos remete à uma rachadura na relação desses dois irmãos motivadas pela distância, mas a trama de 'Hijo de Monarcas' (no original), vai muito além: o paralelo entre a jornada das borboletas monarcas, - espécie pequena de inseto geralmente de cor laranja que migra do sul da Califórnia até o México em busca de calor - com a vida de Mendel, que decidiu fazer do trauma um impulso para voar e construir a própria história, é delicado e construído com poesia sem pesar a mão nas tintas dramáticas, recurso que poderia ter se tornado uma escolha óbvia demais. 

'Filho das Monarcas' retrata a vida de milhares de imigrantes, que mesmo com todas as forças contrárias do preconceito e da falta de recursos, conseguem construir nova vida distante de onde nasceram. Gambis se vale das tradições mexicanas para alinhavar uma história sobre a compreensão da morte e o apego a essas origens, e deixa claro: buscar um sonho não significa abandonar quem se é. 


Vale Ver!



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