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'Bergman Island' não se limita ao tributo e entrega uma trama reflexiva e encantadora | 2021

NOTA 9.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Escrito e dirigido por Mia Hansen-Løve, na trama acompanhamos Chris and Tony Sanders, interpretados respectivamente por Vicky Krieps e Tim Roth, um casal de cineastas que viaja até a ilha de Faro, na Suécia, em busca de inspiração para seus respectivos trabalhos. O local é destino de peregrinação para muitos artistas já que lá o lendário diretor Igmar Bergman viveu seus últimos anos e filmou muitos de seus filmes.

Embora o filme funcione como tributo, Bergman é como um fantasma naquela ilha isolada. Sua relevância e presença, nem um pouco idílica diga-se de passagem, está longe de ser unanimidade entre os que ali vivem, por vezes sendo alvo de críticas e até de desprezo. Por ser essa figura inspiradora e, ao mesmo tempo, distante, o filme não se apresenta como proibitivo ao público não familiarizado com a filmografia do cineasta. Em complemento, Hansen-Løve imprimi seu próprio estilo e nos apresenta um enredo que possui vida própria e em muitos momentos com ideias bastante “anti-bergman”, contradição que se mostra presente em um dos personagens, que ao passar por dilemas no processo de criação, vê na inspiração de seu ídolo, uma fonte vazia para sua própria.

Na primeira metade, o longa se desenrola de forma tradicional e com um ritmo bastante cadenciado, dando um tom reflexivo e uma atmosfera melancólica a trama. Já na segunda metade o filme sai do lugar-comum para uma narrativa quase experimental, o que pode gerar estranheza a princípio, mas bastam algumas cenas para perceber a originalidade de uma estrutura que mistura ficção e realidade, como um filme dentro de um filme. Parece confuso, mas a obra trata, essencialmente, do processo criativo e não o resultado. É a travessia que importa, não seu destino.

Vicky Krieps tem grande destaque como uma mulher inteligente e angustiada. Suas grandes cenas têm a sutileza necessária de uma personagem cujo arco se pauta nas frustrações e descobertas. Tim Roth encontra bom equilíbrio entre austeridade e bom humor. Mia Wasikowska rouba a cena a partir de sua aparição tardia ao dar vida a uma personagem dividida entre seu passado e presente. Já Anders Danielsen Lie está, na melhor das hipóteses, operante.

Bergman é, sem dúvida, um dos maiores diretores de todos os tempos e se tornou um autor canônico dentro do universo cinematográfico. Mas nem só de homenagem vive uma obra, não importa o quão genial seja o objeto de admiração, Hansen-Løve entrega uma obra cuja genialidade é sua, e somente sua.


Super Vale Ver!




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