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A luta de classes na tensa distopia de 'Nova Ordem' | 2021

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

'Nova Ordem' chegou com o hype nas alturas no último Festival de Veneza e as expectativas acabaram se consolidando, já que o filme do cineasta Michel Franco foi o  vencedor do Grande Prêmio do Júri, abrindo a vitrine para que o filme chegasse com grande status em outros festivais, tanto que foi o longa de abertura na Mostra SP em 2020.  A trama é marcada pela violência ao mostrar um México dominado por conflitos, motins e manifestações onde os lados não parecem estar bem definidos. 


'Nova Ordem' é ambientado na Cidade do México e traça um retrato do abismo entre classes no mundo contemporâneo. Enquanto as ruas registram protestos violentos, uma família da elite mexicana promove um casamento num bairro de luxo, aparentemente apartado da realidade local. A paz do evento, porém, não dura muito. Com os funcionários da casa se voltando contra os patrões, as fronteiras entre o caos das ruas e a vida dos abastados são rompidas, envolvendo a todos numa conjuntura de ruptura política.

O já tarimbado realizador Michel Franco ('Depois de Lúcia' - 2013) aposta no já gasto formato distópico, mas que ainda rende algumas boas histórias. Temos aqui dois filmes em um: no primeiro momento, no auge da festa, o tom blasé já entrega a investida crítica à burguesia. É quando surge um personagem gatilho que escancara  a rachadura na diferença de classes, e o quanto os poderosos não se importam com essa diferença. Já na sequência seguinte, o clima de festa com risos largos e o tom de crítica, dá lugar à uma narrativa tensa e que choca pelo uso de muita violência gratuita. Para alguns o recurso pode representar algo incômodo, mas quem vos escreve vê apenas como mensagem de impacto. 

O cineasta levanta um debate melindroso sobre abuso de autoridade e policia corrompida. Deixa às claras como milícias são nocivas na construção de uma sociedade justa e igualitária mas ao mesmo tempo parece demonizar as elites pela riqueza que construíram, o que acaba prejudicando a mensagem num todo. 

Em um discurso durante a premiação no Festival de Veneza, Franco disse que havia escrito o roteiro há seis anos e não tinha ideia de que, quando chegasse a estreia, a distopia que estava retratando estaria muito mais próxima da realidade do que de um gênero cinematográfico. Na certa o filme tem muito do que vivemos no mundo nos dias de hoje - a realidade nua, crua e sem concessões retratadas em 'Nuevo Orden' (no original) está cada vez mais próxima de todos nós do que poderíamos sonhar. Ops! Sonhar não, viver um pesadelo que parece estar longe do fim. 


Vale Ver!




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