'Venom: Tempo de Carnificina' procura entregar novidade repetindo a fórmula | 2021
NOTA 7.5
Fruto de cor diferente, mas da mesma árvore
Por Vinícius Martins @cinemarcante
O termo "genérico" é empregado, no cotidiano popular, para se referir a algo mediano (leia medíocre, se quiser). Esse algo não é bom, e nem tampouco ruim; apenas ordinário e, por vezes, esquecível. Na indústria farmacêutica, no entanto, o genérico é o medicamento que tem o mesmo efeito que os ditos originais porque possui, em essência, a mesma fórmula; o que lhe falta é uma marca (uma assinatura própria e reconhecível) e, por causa disso, ele é mais barato. Olhando tanto para o primeiro filme solo do Venom, lançado três anos atrás, quanto para a sequência que chega agora aos cinemas, percebo que as duas definições de genérico descritas acima são perfeitamente aplicáveis a ambos.
Sob a direção do grande Andy Serkis (que volta a desbravar o ramo da direção agora em um gênero mais popular), 'Venom: Tempo de Carnificina' tem todos os méritos de uma comida requentada, dessas que fica na geladeira e depois volta ao fogão com uma mistura. Coloca-se ali um tempero verde, para dar ares de frescor e novidade, mas o sabor é o mesmo de anteriormente, só que um pouco passado. Temos aqui tudo que vimos no filme anterior em um compacto que, surpreendentemente, não parece atropelado em sua duração inferior aos demais convencionais do tipo. Serkis deve ter percebido que menos às vezes é mais, e embora o roteiro (escrito por Kelly Marcel com base em uma história criada por ela e Tom Hardy) ignore parcial e ocasionalmente por conveniência algumas das regras dos simbiontes estabelecidas no primeiro filme, o elenco tem carisma suficiente para evitar que o filme caia no burlesco de si mesmo.
Para título de comparação, a estrutura dos dois filmes do Venom lançados até agora se assemelha bastante com a dos filmes do Quarteto Fantástico lançados em 2005 e 2007; o espírito irreverente e o humor pastiche (que quer ser levado a sério com suas próprias urgências) dão um tom típico de filme de tarde de domingo, desses que sabemos de antemão tudo que vai acontecer e ainda assim nos deixamos levar pelo embalo da obra. Assim como o primeiro 'Quarteto Fantástico' se ocupa em apresentar os personagens e suas capacidades contra um vilão com superpoderes que é rico e mesquinho, 'Venom' o fez em 2018. De igual maneira, o segundo filme do Quarteto se dedicava às interações individuais e dividia seu núcleo em estranhamentos corriqueiros, propondo uma troca de funções para que todos encontrassem a si mesmos novamente e entendessem seus papéis no mundo - e 'Tempo de Carnificina' assim também o faz. O que muda entre esses segundos filmes é a ameaça, que em 'Venom 2' se resume a um 'fudeu, ele é vermelho!', diferente da escala de alcance global do Surfista Prateado e seu Galactus enfadonho.
A questão que fica na ideia de 'Venom: Tempo de Carnificina' é bem simples: como entregar resultados diferentes fazendo exatamente a mesma coisa? A resposta é que não há como. Você pode colocar um laço vermelho na cabeça de um porco para deixá-lo mais bonito, mas ele ainda será um porco e se encaminhará para a poça de lama mais próxima. O filme se vale a partir do momento em que decide se assumir como realmente é, abdicando das aparentes ambições de grandeza vendidas no marketing, e abraçando seu próprio ridículo e sua previsibilidade estática. 'Venom: Tempo de Carnificina' diverte dentro do alcance de sua bolha, e só; mas por enquanto isso basta para "matar a fome". No fim das contas, comida requentada tem lá seu gostinho e também enche barriga - ou pelo menos forra o estômago.
Vale Ver!
PS: A cena pós-créditos do filme (só há uma) é a melhor cena do filme e evidencia um acerto na escolha dos produtores.
Leia também a crítica do primeiro filme aqui
Deixe seu Comentário: