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'Algum Lugar Especial' emociona com o dilema angustiante de um pai | 2021

NOTA 8.5

Por Karina Massud @cinemassud 

Abandono - uma das dores mais fortes e que nos deixa mais impotentes na vida. Seja ele físico ou emocional, dói do mesmo jeito. A trama de “Algum Lugar Especial” trata de abandono por morte, uma morte anunciada, o que não diminui a dor mas já prepara todos pro luto.

O longa é inspirado em eventos reais e narra a história de John (James Norton), um limpador de vidros de 35 anos de Belfast, Irlanda,  que dedicou sua vida a criar o filho Michael depois que sua mãe os abandonou. Quando ele descobre que tem pouco tempo de vida parte numa difícil busca de uma nova família pro filho. 

Além da dor e sofrimento de John em conhecer uma possível futura vida do seu filho sem ele, acompanhamos casais diversos e suas neuras: o casal rico mas super metódico e  insuportável; o casal classe média que tenta a todo custo engravidar e não se conforma por ter que adotar uma criança; o que é acumulador de filhos, e até a mãe solteira que dificilmente será aceita pela assistente social por não ter um companheiro. 

A saúde de John vai piorando a olhos vistos, e ele corre contra o tempo pra encontrar uma família pro filho, mas nenhuma parece se adequar, o que é compreensível pois se trata da decisão mais importante de sua vida. Esse pai não está revoltado nem aos prantos, pelo contrário, está resignado com seu destino e focado em duas coisas: achar o lar ideal pro filho e desfrutar o máximo de tempo possível com ele, para que o menininho tenha lindos fragmentos de vida na caixinha de memórias. Em tomadas fechadas que dão a sensação de intimidade, eles vão ao parque, tomam sorvete assistindo o jogo de beisebol, lêem histórias de ninar juntos, saboreiam as uvas que tanto amam e se equilibram na corda bamba desenhada no chão: momentos simples mas tocantes para qualquer um que tenha um coração batendo no peito.

James Norton não é um grande ator (e ainda assim vale dizer que é uma das apostas para viver o novo James Bond) mas dá conta do recado numa interpretação contida mas que emociona. Já o fofo Daniel Lamont tem a docilidade necessária para, apesar de muito pequeno, entender que algo de ruim está para acontecer e questionar o que é a morte e quando ela chega – criança é esponja e capta tudo ao redor, tentar enganá-las é uma ingenuidade que os adultos ainda têm.

“Algum Lugar Especial” não tem cenas impactantes como “À Procura da Felicidade” por exemplo, - sucesso sobre paternidade também baseado em fatos reais -, mas apesar da sutileza com que se desenvolve, toca mais fundo no espectador e faz transbordar emoções. A dor é veladamente lancinante, não se exterioriza mas se sente a cada minuto que o pai tem a menos com seu filho.

Um filme sensível que trata com delicadeza uma situação tão inusitada. A última cena é de uma beleza triste que jamais vou esquecer. Prepare seu coração e sua caixa de lenços.


Vale Ver!




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