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'Casablanca' – O Ideal do Herói Romântico na geração de amores líquidos | 1942

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O conceito de “clássico absoluto” é confuso e muito pouco objetivo. Geralmente é utilizado para filme consenso entre público e crítica ou que marcou época por algum motivo. É o caso de 'Casablanca', obra-prima do diretor Michael Curtiz, lançado em 1942 e que permanece em qualquer lista especializada entre os melhores filmes de todos os tempos. Mas será que consenso sobrevive com o passar das gerações? Uma mensagem é capaz de se manter relevante apesar dos anos?

A trama se passa na cidade que dá nome ao filme, que em tempos de guerra foi ponto de encontro para espiões, traidores, nazistas e membros da resistência francesa. Em meio a esse caldeirão, acompanhamos Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano dono de uma casa noturna local. Rick possui um passado com Ilsa Lund (Ingrid Bergman), que reaparece em sua vida casada com outro homem, Victor Laszlo (Paul Henreid), um herói da resistência que busca escapar da perseguição nazista.

A dinâmica tem uma atmosfera pesada, melancólica e angustiante, mas se desenrola sem traços maniqueístas. No longa, nenhum protagonista é bom ou ruim. Diferente disso, são complexos e extremamente humanizados,  o que não se aplica aos personagens secundários, quase todos nazistas, recurso compreensível uma vez que foi filmado em meio a guerra e num período de extrema tensão global, fato que posteriormente se tornou grande mérito dos criadores por retratarem perfeitamente a complexidade daquele lugar e de seu tempo. Como todo bom filme, o enredo flerta com diversos gêneros, como o romance e o suspense, além de diálogos cheios de humor sarcástico, especialmente em seu protagonista, Rick Blaine, dono das principais frases que eternizaram a obra.

Em seu texto sobre o filme, o lendário jornalista e crítico de cinema Roger Ebert escreve que uma das principais razões da popularidade de Casablanca está no fato da forte identificação do público para com seus personagens. O fator identificação é, sem dúvida, um dos principais aspectos para o sucesso de uma obra, o que nos leva a refletir sobre a relevância dos clássicos para a nova geração. Dito isso, talvez filmes como 'Casablanca' sejam quase inacessíveis para uma época extremamente voltada para o indivíduo cuja ideia de coletividade está associada quase sempre a um comportamento de grupo e não propriamente a uma causa. Para essa geração, os conflitos e dilemas de Rick, Ilsla e Victor são inimagináveis, fazendo a trama perder seu apelo dramático, especialmente em suas escolhas finais, onde os ideais de amor e heroísmo ganham maior força.

'Casablanca' é uma trama para almas já formadas, como uma vez Clarice Lispector anuncia em sua introdução de 'A Paixão Segundo G.H'. Um filme cuja mensagem é rica de um sentimento que grita e ao mesmo tempo é abafado por nossas bolhas fechadas de consumo de amor-próprio. Nessa gaiola dourada de uma sociedade líquida caminha a humanidade para um lugar de auto-preservação destrutiva e vínculos afetivos insustentáveis.

“Nós sempre teremos Paris”  - Rick Blaine




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