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'Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental' : filme romeno é metralhadora de ironia em sociedade hipócrita | 2021

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

O grande vencedor do Urso de Ouro em Berlim esse ano vem da Romênia. A comédia 'Bad Luck Banging or Loony Porn' é daquelas porradas cinematográficas, que invariavelmente atraem na mesma proporção que repelem. No entanto, sendo ou não a favor da abordagem do cineasta Radu Jude para temas tão espinhosos e de âmbito mundial, é inegável que ele tenha escolhido o melhor caminho para sua critica: o humor. No Brasil, o filme ainda inédito, está na seleção da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 


Na trama iremos conhecer Emilia Cilibiu - ou simplesmente Emi - uma tarimbada professora de história na escola em que leciona já há muitos anos. Sem nada que pudesse ser acusada no tocante ao desempenho  de sua  profissão, ela vê sua carreira e reputação ameaçadas depois que um vídeo íntimo contendo uma cena de sexo dela com seu marido vaza na internet. Entre muitas piadas na rua e no comércio vizinho, ela se vê forçada a encarar  os pais de alunos que exigem sua demissão. Como em uma inquisição, ela será julgada, mas se recusará a assumir que tenha culpa pelo ocorrido. 

A primeira cena já traduz o quanto o cineasta pretende ser literal: a sex tape é explícita, e cada vírgula do diálogo durante a cena é devidamente colocada em seu lugar, não há economia de ângulos e expressões sacanas, que em nada se diferenciam dos vídeos das famosas plataformas que exibem conteúdo pornográfico. À partir daí qualquer coisa é esperada pelo público que 'aceita' o primeiro impacto, e ao contrário do que os mais pessimistas imaginariam, a narrativa não segue uma lógica, a não ser se fazer altamente crítica às convenções e imbecilidades da existência humana. 

Jude decide dividir sua história em três atos: na primeira parte a missão é tentar que o vídeo seja definitivamente apagado, enquanto a estrela da fita ouve insinuações e torpezas onde quer que passe. A segunda, onde um retrospecto da aspereza humana nos diz, quase que didaticamente e em tom documental, sobre a indecência da guerra, da xenofobia, da desigualdade social. Entre tantos assuntos sérios e algumas amenidades, o formato ganha traços experimentais, parecido com o que Godard usou em seu último filme, 'Imagem e Palavra' (2019).

Ainda no primeiro ato vamos notar que o filme se contextualiza ao momento pandêmico, e lá na terceira parte, quando o julgamento da família tradicional se abate sobre Cilibiu em uma reunião de pais na escola, teremos amostras também de negacionismo e politização das máscaras. Entre tantos absurdos e afirmações retrógadas, há a prova patente de que a obscenidade habita em mentes moralistas, e não no sexo gravado de uma mulher e seu marido, violado pela maldade de alguém que se esconde atrás da família de bem. 

Tenho notado que o que acontece no Brasil, não é exclusividade tupiniquim, é replicado quase no mundo todo e só vem à tona porque um dia deu-se voz aos torpes, que se escondem atrás do moralismo para amplificar seu ódio. 


Super Vale Ver!




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