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O Fio Invisível’: atmosférica e enigmática trama sobre maternidade e seu maior pesadelo | 2021

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Adaptado do livro ‘Distância de Resgate’, escrito por Samanta Schweblin, que também assina o roteiro, ‘O Fio Invisível’ conta a história de Amanda (Maria Valverde), uma jovem da cidade grande que, acompanhada de sua filha Nina (Guillermina Liotta), parte em uma viagem para um vilarejo afastado. Ao chegar ela conhece Carola (Dolores Fonzi), uma moradora assombrada pela culpa de acontecimentos do passado envolvendo seu filho, David (Emilio Vodanovich).

Adaptações literárias para o cinema são comuns desde o seu nascimento, porém, menos usual é o autor da obra também assumir o roteiro de sua adaptação, afinal, por se tratarem de mídias diferentes, a linguagem sofre mudanças que podem ou não se distanciar da ideia original. Em ‘O Fio Invisível’ é bastante evidente os traços do material base já que expressa em sua narrativa um tom poético e contemplativo desde a primeira cena, mantendo em sua maior parte uma narração da própria protagonista, que diretamente nos introduz e descreve o que vemos, mas, ao mesmo tempo, preserva os mistérios das imagens descritas. A trama preza pelos simbolismos nos argumentos, tendo a relação entre as protagonistas seu fio condutor, assim como a relação das mesmas com seus respectivos filhos. No entanto, mesmo se estabelecendo como um mistério cheio de subjetividades, o filme não se apresenta como um quebra cabeça a ser desvendado, e é nesse quesito que o filme abraça de vez suas origens literárias, se apresentando desta forma como uma experiência a ser sentida, muito mais do que entendida. Como o próprio filme em uma de suas frases sugere “algumas vezes seus olhos não são o suficiente”

As atuações são ótimas, especialmente das protagonistas. Maria Valverde dá vida a uma mulher insegura e visivelmente desconfortável com tudo a sua volta, já Dolores imprimi em sua personagem, através de seu visual e olhar, uma completa desconexão com o lugar onde vive. Em ambos os casos essas características são sutis, mantendo a coerência narrativa que caminha de forma lenta, mas que se faz necessária devido a sequências que causam certo estranhamento e por vezes demandam uma pausa reflexiva, pois, como já mencionado, por mais que seja um fato sem sentido aparente, ele é sempre um fato a ser sentido.

‘O Fio Invisível’ assume o risco de uma adaptação mais próxima do material base no que se refere a sua forma, mantendo as palavras sempre em primeiro plano, mas aproveita os recursos da linguagem cinematográfica para dar cores a cada frase dita, abordagem que pode ser restritiva e até proibitiva para alguns. O filme exige mais do que engajamento, é necessária conexão. Em meio a tantas ofertas e um catálogo cada vez mais cheio de filmes vazios, uma trama que nos ofereça mais do que os olhos podem ver talvez seja uma boa pedida. 


Vale Ver!




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