'7 Prisioneiros' e os novos tempos de escravidão | 2021

NOTA 7.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema 

Ao contrário do que o título pode sugerir, “7 Prisioneiros” não se passa em uma penitenciária, mas em um ferro velho dentro da maior metrópole brasileira. Os prisioneiros aqui não cometeram qualquer crime que não seja terem nascido pobres. Nada fizeram para serem encarcerados e viver como escravos. O filme traz um relato nu e cru da escravidão moderna, sempre encoberta por um estado corrupto e por gente poderosa.

O longa conta a história de 4 jovens do interior, iludidos com a promessa de emprego, topam ir para cidade grande e vão trabalhar no ferro velho de Luca (Rodrigo Santoro). Lá, porém, encontram uma realidade completamente distinta daquela que lhes havia sido prometida. Não há salário, o banho e o alimento são escassos, só não falta trabalho, o qual é realizado em condições precaríssimas.

O que há de melhor no longa é a maneira como discorre sobre as relações sociais dentro daquele sistema, emulando algo parecido com o que de fato ocorria no auge do período escravista no Brasil. Isto porque a ideia de escravos no Brasil é comumente associada a uma massa homogênea, como se todos os negros fossem iguais, o que está longe de ser verdade. Os negros chegaram aqui dos mais diferentes cantos da África, com distintas personalidades, condições sociais e de estudo e, não raro, havia aqueles mais letrados do que os seus próprios senhores.

Por isso é interessante a forma como o filme coloca um dos prisioneiros, Matheus (Christian Malheiros), como alguém que, com sua astúcia, pensa em brechas para escapar, mesmo que, para isso, tenha que se aliar ao carrasco. As discussões éticas que advém dessa aliança são complexas, mas não sou capaz de julgar quem tem a própria cabeça a prêmio.  

Rodrigo Santoro, é verdade, não está no seu melhor personagem, um tanto unidimensional, carecendo de um texto que concedesse mais oportunidades de desenvolvimento a ele. Não chega, porém, a comprometer severamente o resultado de um longa que denuncia um crime gravíssimo e ainda tem sutilezas mais a mostrar. 

Vale Ver!