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'Pixinguinha - Um Homem Carinhoso' : cinebio reconstrói a trajetória do 'pai do chorinho' | 2021

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

"Meu coração, não sei por quê...Bate feliz quando te vê...E os meus olhos ficam sorrindo...E pelas ruas vão te seguindo... Mas mesmo assim, foges de mim..."  

Hesitei em abrir esse texto com a consagrada canção do mestre Pixinguinha, mas não pude brigar com a memória afetiva que tenho dessa canção. Algo como um patrimônio imaterial, 'Carinhoso' habita no imaginário coletivo quando pensamos em música brasileira. Eu por exemplo, me lembro do meu pai (recém falecido aos 91 anos de idade) quando ouço essa canção - Eu consigo ouvi-lo nitidamente cantando à mesa, basta fechar os olhos.  É certo que em função dessa memória afetiva, 'Pixinguinha- Um Homem Carinhoso', que acaba de chegar aos cinemas,  representaria muito mais do que apresentar a cinebio  de um mestre da Música Popular Brasileira, ao menos pra mim.  

O longa acompanha a vida de Alfredo da Rocha Vianna Junior (1897-1973), conhecido como Pixinguinha. Como toda grande personalidade ele foi um gênio incompreendido e muito à frente de seu tempo, e passou a ter sua importância reconhecida muitos anos depois. A vida do famoso músico, menino negro de classe média baixa é contada desde suas primeiras performances antológicas na flauta; instrumento pelo qual ele tinha devoção. 

A composição de suas muitas obras primas, dentre as quais aquela citada acima, um verdadeiro hino popular brasileiro, (que fez cem anos em 2017); sua temporada de seis meses em Paris em 1922 com o retumbante êxito de seu conjunto Oito Batutas; seus arranjos como primeiro diretor musical para a Victor americana nos anos 30, sua decadência em função do álcool e ressurgimento nos anos 40; sua consagração nos anos 60 pelas mãos das novas gerações da bossa nova e do jazz; e sua morte na igreja N. S. da Paz, em Ipanema no Rio de Janeiro, em plena abertura do carnaval de 1973 durante a passagem da famosa Banda de Ipanema, são alguns dos muitos momentos marcantes da vida do mestre apresentados nos cerca de  90 min do filme sob a batuta  de Denise Saraceni (consagrada diretora de novelas, em seu primeiro longa metragem) e Allan Fiterman. 

O longa que tem roteiro da tarimbada Manuela Dias (de 'Amor de Mãe' e 'Justiça'), funciona bem como homenagem, mas enquanto obra que registra a trajetória do músico, fica devendo.  Além de ser exageradamente enxuto e só pincelar alguns momentos da vida de Pixinguinha, em algumas sequências a desenvoltura de Seu Jorge, intérprete do maestro na fase madura, se apresenta um tanto mecânica e engessada. Em contrapartida, Taís Araújo, que vive seu grande amor, é de uma graça  ímpar e confere a delicadeza na medida certa aos apelos dramáticos da trama. 

É bem verdade que nas sequências musicais Seu Jorge inevitavelmente brilha, até pela intimidade que o cantor e ator tem com a flauta e o saxofone - e é nesse caminho, apostando no espectro musical e nos registros reais em pequenos flashes, que a cinebio ganha volume e encanto. 'Pixinguinha - Um Homem Carinhoso' resgata a memória de um do grandes nomes da cultura desse país, e em tempos onde a cultura é constantemente atacada, a obra se torna (com o perdão do trocadilho) música para os nossos ouvidos. 


Vale Ver! 




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