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'Alerta Vermelho': Trama de espionagem da Netflix é aposta alta em figuras carimbadas | 2021

NOTA 6.0

Nem só de carisma vive um filme

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

A Netflix investiu alto em seu novo filme, 'Alerta Vermelho', ao escalar sua trinca de protagonistas que contém os três nomes mais populares e carismáticos do cinema atualmente: Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds. Com esse time de atuação, a Netflix conseguiu superar o orçamento de 'O Irlandês' e realizou o filme mais caro de sua história até agora, com a promessa de um entretenimento de primeira qualidade e muita ação envolta em boas doses de comédia. Contudo, apesar da avalanche de simpatia que flui da tela, somos obrigados a questionar se os intérpretes de Adão Negro, Mulher-Maravilha e Deadpool conseguem carregar um filme nas costas usando charme e um bom timing para piadas e improvisos.

Dwayne Johnson, o grande The Rock (que raramente foge dos papéis estereotipados de brutamontes invencível, salvo 'Sem Dor, Sem Ganho', de 2013, por exemplo), interpreta aqui um agente chamado John Hartley, que se une ao golpista Nolan Booth (Ryan Reynolds) após cair em uma armadilha preparada pela elegante e enigmática Bispo (Gadot). Hartley, no entanto, almeja prender tanto Booth quanto Bispo, e acaba tendo que lidar com o inimigo para conseguir pegar um inimigo ainda maior. Isso tudo, é claro, rende uma ótima caçada de gato e rato onde os papéis se invertem a todo instante, e essa divertida corrida entre ladrões se dá em um sucesso de público praticamente garantido justamente pelo talento de seu elenco principal, que transpõe à tela uma química inegavelmente charmosa. Então, vê-se os problemas surgindo aos montes com a revisão pós sessão: o roteiro se esforça para tornar hábil o conhecimento de seus personagens e tenta justificar os excessos de coincidências e conveniências com algumas colocações tão risíveis que, honestamente, exigem uma ignorância maior do que o habitual para serem críveis. As coreografias de luta não são refinadas e o design de produção não é tão inspirado ao ponto de fazer valer os tantos milhões investidos na produção, até porque a maioria das cenas usa efeitos em chroma key e cenários virtuais. Aparentemente o dinheiro colossal usado para fazer o filme deve ter ido em sua maioria para os cachês dos atores principais; mas por outro lado, curiosamente, o filme conquista mais pela desatenção do que pelo esforço nas acrobacias do roteiro. Enquanto é exibido o filme funciona, mas ao seu término é nítido que falta algo nele.

'Alerta Vermelho' é um entretenimento casual escapista, como um jantar rápido em um fast food: é gostoso, mas não necessariamente nutritivo - e está tudo bem porque às vezes só precisamos do sabor mesmo para tirar o amargor da vida do lado de cá da tela. Se você busca entretenimento rápido para se desligar do mundo caótico em que vivemos então esse aqui é um prato cheio! O triste é que o filme infelizmente desperdiça talentos excepcionais para outras linhas (drama, por exemplo) justamente para entregar mais do mesmo com seu elenco preso na zona de conforto: The Rock como a muralha ambulante que atropela todo mundo, Gal Gadot como a sedutora que derruba brutamontes na porrada através de habilidades que aparentemente não possui, e Ryan Reynolds como o piadista habilidoso que não se leva a sério para não ter que lidar com os próprios traumas. Se o roteiro fosse mais refinado e dispusesse camadas aos personagens ao invés de tentar surpreender tão desesperadamente, certamente teríamos um resultado muito mais satisfatório. Ao grande público deve agradar, com certeza, mas só àqueles que se dispuserem a assistir com o cérebro em stand by, porque se pensarem muito vão acabar notando que o filme é a reciclagem da reciclagem.

Se o roteiro não se esforçasse tanto para ser surpreendente e apenas deixasse as coisas acontecerem, aí sim o filme talvez justificasse a própria existência. Ele pode até fazer rir, deixar uma sensação boa ao final (o gosto bom do fast food) e inclusive encher a barriga de quem busca esse tipo de prato - mas no fim é um sabor tão comum que acaba não sendo válido. Quer uma prova disso? Assista ao filme e tente imaginar, quando os créditos rolarem, se a história funcionaria, se o filme seria tão bom e se teria sido tão engraçado se fosse estrelada por atores desconhecidos ou menos populares. Duvido que a resposta seja sim, e falo isso porque 'Alerta Vermelho' é cruamente um produto mercantil e só. Vi no cinema, mas a todo instante vinha a cretina sensação de que é um filme apenas para a televisão mesmo, mesmo apesar de seu elenco astronômico. Uma história que depende do seus intérpretes para ser boa definitivamente não é uma boa história. Boas histórias se bastam, e 'Alerta Vermelho' só é esse alvoroço todo por causa do apelo carismático de seus protagonistas em evidência. Há filmes menores e infinitamente melhores no catalogo da Netflix, mas rostos bonitos vendem mais do que conteúdo inteligente.


Vale Ver Mas Nem Tanto! 



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