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“8 Presidentes, 1 Juramento”: documentário faz uma retrospectiva das últimas três décadas da política brasileira | 2021

NOTA 6.0

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

Carla Camuratti foi figura central no que se convencionou chamar de Retomada do Cinema Brasileiro, ocorrida poucos anos após o então presidente Collor, entre outras medidas controversas, ter extinguido a Embrafilme. Graças ao seu “Carlota Joaquina” (1994), comédia histórica que levou quase um milhão de pessoas aos cinemas, nosso audiovisual recuperou a confiança tanto do mercado quanto do público. E não deixa de ser curioso que, em certa passagem de “8 Presidentes, 1 Juramento – A História de um Tempo Presente”, ela apareça rapidamente durante a cerimônia de criação da Ancine. Ali, via-se a esperança de um país mais preocupado em se desenvolver no âmbito cultural: “O governo é passageiro, o audiovisual e a cultura são eternos.”, surge no discurso do chefe do executivo naquele momento. Portanto, não seria de se estranhar que a constatação da destruição de tudo o que foi vislumbrado naquele instante tenha motivado a realização desta obra que, prescindindo da assertividade de exemplares como “O Processo” (2018) e “Democracia em Vertigem” (2019) reivindica a cada instante o seu valor de documento.

Assinando produção, roteiro e direção, a cineasta parece bem mais preocupada em traçar um panorama da história política brasileira desde a redemocratização em 1985 até chegar à eleição de Jair Bolsonaro, como resultado de uma nova ascensão da extrema direita saudosa dos tempos ditatoriais. São raros os momentos em que sejam percebidas uma ou outra piscadela da direção que revele algum posicionamento frente às imagens que se acumulam. O tom da narrativa é quase sempre dado pela montagem de Joana Ventura, como se estivéssemos diante de um especial estendido da Globo News. E se tal opção confere ao longa uma certa relevância enquanto registro do recorte apresentado, fica também evidente a falta do olhar de quem conta essa história.

Parte da crítica, por exemplo, apontou um certo endeusamento de Carlos Marighella no recém-lançado filme de Wagner Moura sobre o guerrilheiro que desafiou os militares em plena ditadura. Mesmo que houvesse ali tal aspecto, ele seria fruto da leitura de um artista sobre um personagem real, seus atos e o contexto no qual estava inserido. Isso é cinema. Do contrário, o resultado não pode ser outro senão uma mera retrospectiva impessoal, com flashes acelerados e música supostamente urgente (composta por André Abujamra) como a de qualquer plantão de noticiário, carente de uma visão mais individual do objeto de análise.

Por fim, fica difícil saber se o cansaço sentido após as duas horas e trinta do filme é devido à avalanche de horrores de nosso eterno atraso político ou se ele advém da falta de atrativos cinematográficos durante a exposição dos principais eventos de cada governo. Dessa forma, “8 presidentes, 1 juramento” acaba não sendo um breve resumo de nosso pântano político, tampouco um profundo estudo do mesmo. A indignação surge mais pelo efeito acumulativo do resumo que faz do que por qualquer aproximação mínima com os bastidores do poder. Claramente, estamos diante de um produto que seria bem mais exitoso caso o intenso trabalho de pesquisa realizado por Antônio Venâncio fosse melhor distribuído ao longo de uma série jornalística para ser exibida na TV a cabo ou disponibilizada em algum serviço de streaming. 


Vale Ver Mas Nem Tanto!



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