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A antologia da subversão em 'A Crônica Francesa', nova viagem de Wes Anderson | 2021

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

Em quase trinta anos de carreira, Wes Anderson construiu uma carreira sólida e composta de trabalhos com identificação única.  É claro que sua assinatura foi se consolidando com o passar do tempo, tanto que é perfeitamente possível reconhecer um trabalho do cineasta somente pela proposição estética, que nos últimos anos ganhou ainda mais toques autorais como em  'Moonrise Kingdom' (2012), 'O Grande Hotel Budapeste' (2013), ou mesmo na animação em stop-motion 'Ilha dos Cachorros' (2018).  

Em 'A Crônica Francesa' - a nova viagem de reinvenção do realizador - Anderson  não deixa sua marca registrada de lado,  mas imprime traços mais sombrios (um flerte com o humor negro talvez?),  do que em seus projetos anteriores. Sim, a  violência é recorrente, mas aqui ainda existe o plus da ironia, que revela mais uma faceta do mestre, que faz uma homenagem as artes - a literatura, o cinema e artes plásticas. 

A trama se passa na ocasião da morte do editor Arthur Howitzer Jr. (Bill Murray), quando a equipe da The French Dispatch Magazine, uma revista americana de ampla circulação sediada na cidade fictícia de Ennui-sur-Blasé, na França, se reúne para escrever o obituário do jornalista. As memórias de Howitzer permitem a criação de quatro histórias: um diário de viagens pelas partes mais degradadas da cidadezinha; uma matéria sobre um pintor criminalmente insano; uma crônica de amor e morte nas barricadas durante o ápice da revolta estudantil; e uma fábula de suspense sobre drogas, sequestro e jantares de luxo.

As crônicas tanto funcionam em separado como juntas, e isso através de personagens chave que unem as histórias e as fundem numa só. Mesmo dentro desse formato, a grande quantidade de personagens (uma lista interminável de estrelas, entre as quais estão Tilda Swinton, Timothée Chalamet e Frances McDormand) acabam fazendo com que uma parte do elenco acabe por ser subaproveitado - alguns inclusive não passam de meros figurantes de luxo que só fazem engrossar o volume da moldura desse quadro complexo criado por Anderson. 

Mestre em criar personagens tão contraditórios quanto apaixonantes, aqui Anderson acaba não oferecendo oportunidades iguais, até pelo desnível narrativo entre as tramas.  O primeiro ato, em que o sempre marcante Benício del Toro dá vida a um assassino e gênio das artes plásticas que tem como musa a agente penitenciária interpretada por Léa Seydoux, é sem dúvida uma abertura promissora que se destaca entre as demais. 

'A Crônica Francesa', uma nítida  exaltação ao cinema francês, não é o melhor de Anderson e é possível que tenda a agradar exclusivamente aos fãs confessos do cineasta. Não é um filme fácil, mas não deixa de ser uma experiência curiosa e contraditoriamente encantadora. 


Vale Ver!







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