'Ataque dos Cães' : As feridas da masculinidade tóxica e o mito do Cowboy | 2021
NOTA 9.5
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Baseado na obra de Thomas Savage escrita em 1967, ‘Ataque dos Cães’ marca o retorno da premiada diretora Jane Campion após 12 anos desde seu último trabalho no cinema. Espera que se mostrou recompensadora já que em ‘Ataque dos Cães’ ela entrega seu melhor trabalho desde ‘O Piano’.
A trama se passa na Montana dos anos 20 e acompanhamos Phil (Benedict Cumberbatch) e George Burbank (Jesse Plemons), que apesar de irmãos não compartilham de nenhuma semelhança. Enquanto Phil é frio e calculista, George é gentil e amável. Quando Rose (Kirsten Dunst) e seu filho Peter (Kodi Smit-McPhee) se aproximam da família, um inesperado clima de tensão e rivalidade se forma, trazendo à tona traumas e segredos do passado.
O faroeste é, talvez, o gênero de maior desconstrução no cinema, uma vez que muito de sua estrutura narrativa foi pautada em estereótipos que sofreram mudanças históricas, tornando sua estrutura datada e até mesmo preconceituosa. Várias propostas revisionistas surgiram a partir da década de 60, período em que a contracultura colocou em pauta diversos desses conceitos pré-estabelecidos. Desde então, o gênero nunca mais foi o mesmo.
'Ataque dos Cães' se faz valer de toda a estrutura clássica. Da trilha sonora à fotografia com grandes planos abertos. Mas é no enredo a origem da ruptura. Ao invés de tiros, temos diálogos, olhares, expressões, e a construção de um herói forasteiro dá lugar a um estudo de personagem que coloca a proposta de desconstrução em primeiro plano e o mito do cowboy é posto em xeque.
Além do roteiro apurado e uma técnica impecável, o longa possui atuações magníficas. A começar por Kisten Dunst, interpretando uma personagem cuja dor é reprimida, mas ao mesmo tempo extremamente palpável, graças as sutilizas com que conduz sua atuação. Destaque também para Benedict Cumberbatch, com uma das melhores (se não a melhor) atuação de sua carreira, com uma força que em momentos lembrou a brilhante performance de Daniel Day-Lewis em 'Sangue Negro'.(2007)
'Ataque dos Cães' tem uma narrativa rica em símbolos, de modo que um segundo olhar nos possibilita desvendar mais de suas camadas. Se trata de um enredo corajoso ao debater temas como masculinidade e solidão de forma verdadeira, sensível e direta, porém, um certo olhar contemplativo é necessário para maior imersão, afinal o filme tem seu próprio ritmo, o que pode restringir seu público e tornar a experiência enfadonha para os desavisados, mas definitivamente, em um mundo onde o debate entre o ser e o se descobrir ganha cada vez mais relevância, obras como essa se tornam mais que entretenimento, são uma fonte de reflexão e por que não dizer, de inspiração.
Super Vale Ver!
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