“Azor” expõe os meandros financeiros de uma elite mesquinha durante a ditadura militar na Argentina | 2021
NOTA 7.5
Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme
Em dado momento de “Azor” – filme coproduzido por Argentina, Suiça e França -, um diálogo esclarece para o espectador o significado do termo que nomeia o longa de estreia de Andreas Fontana, algo que, no jargão utilizado naquele contexto, pode variar entre um “Fique quieto” e um “Cuidado com o que diz”. E o que acompanharemos durante a maior parte de sua rodagem é o cuidadoso tatear de um homem de negócios em situações nas quais escolher a hora certa de falar e de ficar em silêncio pode não só significar o sucesso de sua empreitada, mas também a manutenção de sua vida.
Em plena ditadura militar, Yvan De Wiel (Fabrizio Rongione) é banqueiro comercial suíço que precisa viajar para a Argentina no intuito de restabelecer a confiança dos clientes após o misterioso desaparecimento de seu sócio. Acompanhado da esposa Inés, interpretada com charme por Stéphanie Cléau, ele vai transitar por mansões com grandes jardins e piscinas, clubes bem restritos e corridas em hipódromos, lugares nos quais os eventos são meras conveniências para que as transações sejam feitas nessa nova configuração política: “Não se esqueça que tivemos que arrumar a casa.”, ouve de uma figura poderosa em tom plácido, porém, nada amigável.
Expondo a falta de escrúpulos de uma elite em conluio com a ala militar do país e com líderes religiosos, o roteiro escrito pelo próprio Fontana, em parceria com Mariano Llimas, quer claramente evidenciar os arranjos dessa engrenagem financeira, muitos deles realizados através de conversas sussurradas em rodinhas de homens de fraque segurando taças e, para isso, vai investir numa coerente atmosfera de filme de máfia. Assim, à medida em que De Wiel avança casas naquele tabuleiro, a tensão aumenta e mais claro fica que concessões precisarão ser feitas para que o banco de sua família continue servindo de paraíso fiscal para os milionários do lugar.
Junto com obras como o chileno “Aranha” e o brasileiro “Marighella”, “Azor” (em cartaz na Mostra Play da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo) parece compor uma nova e bem-vinda onda de filmes de viés político no continente. Assim como esses títulos, a produção faz questão de jogar luz onde só havia trevas, porém, o foco aqui será expor uma elite mesquinha e sisuda, formada por tipos que não se abalam nem com o sumiço de um filho supostamente envolvido com “subversivos”. E diante de uma estrutura corrompida, com ramificações em todas as esferas do poder, não resta outra opção ao protagonista a não ser abandonar a apreensão e se deixar levar pelas oportunidades que surgem. Se o seu olhar era perdido e preocupado nos primeiros dias, não tardará para que ele aprenda que é possível tirar bastante proveito de uma situação sociopolítica que só beneficia àqueles que, por serem dotados de uma imensa capacidade de se adaptar, sempre foram os donos do dinheiro e, óbvio, do poder.
Vale Ver!
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