'Os Muitos Santos de Newark' tem sabor de nostalgia para os fãs da Família Soprano | 2021
NOTA 7.5
Por Karina Massud @cinemassud
Criação do showrunner David Chase, a série “Família Soprano” (1999- 2007) foi um divisor de águas na indústria do entretenimento, e com ela começou a Era de Ouro da TV. Ela foi a precursora e sinalizou o que séries viriam a se tornar: produções incríveis, com elenco, roteiro e audiência espetaculares, muitas vezes melhores que filmes feitos pro cinema. Até então séries eram consideradas produções populares de 2ª linha, com elenco desconhecido, orçamento baixo e pouco prestígio.
O protagonista de “Família Soprano” é o anti-herói Tony Soprano, um chefe da máfia classe média de New Jersey que tem crises existenciais e problemas ora no “trabalho”, ora na família. Tony Soprano é mocinho e é bandido, impiedoso com seus inimigos mas adorável e sedutor com todos que ama - ele tem muitas nuances e a gente sempre torce muito por ele. Um mafioso charmoso, ético dentro das suas próprias normas, forte e ao mesmo tempo sensível: uma combinação perfeita que o tornou um ícone da cultura pop. Os vilões sempre foram os personagens mais fascinantes, mas foi por causa dele que passaram a ser também os heróis do público de séries. Para assistir “The Many Saints of Newark”, ou mesmo ler essa resenha crítica, é preciso conhecer a importância da série e todo o seu universo.
Spin-offs em geral são difíceis de se realizar pois mexem na imagem intocável de uma série que está no imaginário dos fãs, que inevitavelmente irão compará-los e quase sempre criticá-los. Vale lembrar o exemplo mais famoso e recente, “El Camino”, continuação de “Breaking Bad”, outra série monumental cuja sequência não agradou a todos. “Os Muitos Santos de Newark” é um prelúdio de “Família Soprano”, que acompanha o jovem Anthony Soprano crescendo em um dos momentos mais turbulentos da história de Newark, com conflitos raciais violentos e guerra entre gangues rivais. O adolescente é vivido por Michael Gandolfini, filho do falecido James Gandolfini, que tem uma semelhança espantosa com o pai. Ele idolatra seu tio Dickie que luta pelo poder e que o influencia a se tornar o temido chefão da máfia Tony Soprano. Aliás, a escolha dos demais no elenco também foi ótima: Ray Liota como o violento chefe da máfia que “importa” uma esposa gostosona da Itália, Alessandro Nívola como o competitivo Dickie Montisanti e Vera Farmiga como Livia, a mãe narcisista e tóxica de Tony – todos perfeitos.
O filme é narrado por Christopher, sobrinho de Tony e provável sucessor com quem ele nutria uma relação de amor, ódio e competição, e isso traz bastante peso à trama, visto que os dois protagonizaram uma das viradas mais espetaculares da história da tv (que não cito aqui justamente pra suscitar a curiosidade em quem ainda não viu a série). A trama é conduzida com a mesma competência e tensão que a série, com muita violência, disputa pelo poder, valores familiares, amor e negócios ilícitos.
O longa foi divulgado como a origem do mafioso Tony Soprano, no entanto a espinha da história não é o protagonista da série, ele é um coadjuvante que fica sempre à espreita, olhando furtivamente os acontecimentos da sua família e da conturbada época onde negros lutavam com brancos nas ruas de Newark. Faltou foco no anti-herói: como o jovem Anthony se tornou o Tony implacável, cheio de inimigos, mulherengo, sociopata mas com a fragilidade exposta em ataques de pânico que o levaram à terapia?
O filme é bom, porém teria funcionado melhor se tivesse sido produzido em formato de minissérie, para se aprofundar no perfil psicológico riquíssimo do mafioso e dos demais personagens, todos extremamente vaidosos e ambiciosos, e que vão evoluindo ao longo da trama para chegar no que conhecemos da série. A memória afetiva dos fãs é tocada, sem dúvida, porém o filme deixa a sensação de “quero mais e muito mais” da origem do icônico Tony Soprano.
Vale Ver!
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