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'Ghostbusters: Mais Além' : Jason Reitman resgata espírito aventuresco de Harold Ramis e surpreende | 2021

NOTA 10 

Fantasmas também gostam de jogar xadrez

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Existe vida após Harold Ramis? A pergunta talvez pareça deslocada caso você não tenha familiaridade alguma com a ficha técnica dos clássicos oitentistas 'Os Caça-Fantasmas' 1 e 2, mas te garanto que é essencial atualmente para quem é fã da equipe de parapsicólogos que salvou Nova York por duas vezes (na mágica ficção dos filmes, é claro) na década de 80. Sendo assim, vou reformular: existe vida para a franquia Ghostbusters após Harold Ramis? Bem, caso você não saiba, Harold Ramis era um diretor e produtor de cinema, além de roteirista e também ator - tendo desempenhado essas duas últimas funções nos filmes dos Caça-Fantasmas ao lado do amigo também roteirista e ator Dan Aykroyd. Sua genialidade era ímpar, com uma ótima intuição para a comédia e uma criatividade enorme para criar situações inusitadas. Um dos melhores filmes já feitos, 'Feitiço do Tempo' (1994), é fruto da mente formidável que Ramis tinha, e muito do sucesso de 'Os Caça-Fantasmas' provém de sua astúcia lírica e singular. Com isso, após sua morte em 2014 e a tentativa questionável de reboot que a franquia sofreu em 2016 pelas mãos de Paul Feig, a pergunta que abriu a crítica de hoje ganhou uma negativa lastimável como resposta.

Contudo, já nas últimas semanas de 2021, eis que surge nos cinemas um filme que comprova e confirma que sim, existe vida após Harold Ramis e sim, é possível fazer um filme dos Caça-Fantasmas nos dias de hoje com a qualidade dos clássicos! O filme da vez é dirigido por Jason Reitman, que, vejam só!, é filho do diretor dos filmes originais de 1984 e 1989, Ivan Reitman. No entanto, não espere ver aqui adultos fumando repetidas vezes em corredores e escritórios ou discutindo questões de física quântica que a maioria do público não entende e nem se importa de fato, pois aqui o protagonismo é das crianças e o filme é nada menos do que uma belíssima passagem de bastão. Apesar de ainda ver graça no filme protagonizado por uma equipe feminina, assumo que o novo Ghostbusters de Jason Reitman está para 'As Caça-Fantasmas' de Paul Feig do mesmo modo que 'O Esquadrão Suicida' de James Gunn está para 'Esquadrão Suicida' de David Ayer. A propósito, notem o padrão: filmes de 2021 concertando as burradas de 2016 e reerguendo o moral de seus títulos com o público. A diferença é que no filme dos vilões da DC ainda existe um certo caráter de sequência, mesmo que camuflado em subtramas que passam batido, e aqui o novo filme se estabelece como um terceiro volume definitivo, anulando completamente a existência do reboot de cinco anos atrás - ou pelo menos desconsiderando-o de sua cronologia; vai que futuramente decidem explorar o multiverso? A nova tendência da indústria é essa, pelo menos. Independente disso, vemos em 2021 que Hollywood é capaz de aprender com alguns dos próprios erros e se aprumar de modo a honrar o legado de grandes idealizadores. 

Já em seus primeiros minutos, quando a silhueta do Dr. Egon Spengler (personagem de Ramis) aparece nas sombras, percebe-se que o filme será uma grande homenagem a ele e ao seu trabalho, fazendo jus ao universo que ele ajudou a construir e que tanto amou. No fim das contas a obra se confirma exatamente como o esperado, ainda deixando uma porta aberta para vindouras sequências com duas cenas pós-créditos que resgatam o espírito aventuresco dos clássicos e se mostram promissoras o bastante para arrepiar qualquer fã. Todavia, o filme não se limita a uma homenagem. O grande trunfo do filme é o elenco infantil, encabeçado por Phoebe e Trevor Spengler, interpretados com louvor por McKenna Grace e Finn Wolfhard, respectivamente. Grace, inclusive, é um dos nomes mais auspiciosos de Hollywood atualmente, tendo figurado em diversos filmes e séries como a versão infantil de personagens fortes e cativantes. 

O trabalho de maquiagem e cabelo também é excelente, que junto com a equipe de design de produção conseguiu impor todo o clima dos anos oitenta ao filme, mesclando os penteados retrô de alguns personagens (principalmente dos protagonistas infantis) com a tecnologia e a cultura moderna que consumimos atualmente. Um dos personagens mais carismáticos, por exemplo, é um garoto que se apresenta como Podcast e grava tudo de interessante que acontece com um microfone enquanto narra ao único inscrito de seu canal todas as anormalidades que ocorrem em sua cidade.

Se mostrando uma grata surpresa  e repleta de emoções saudosas, 'Ghostbusters: Mais Além' é um exemplar perfeito de que dá para conciliar o novo e o velho, e serve como mais uma evidência de que o cinema é um fator que une gerações em torno de uma mesma arte e/ou obra que se reimagina e se reinventa. Ivan Reitman, o diretor dos filmes originais, retorna para o novo filme como produtor para auxiliar o filho, Jason, enquanto ele trilha seu próprio caminho e deixa sua marca na franquia dos Caça-Fantasmas. O subtítulo original do novo filme, 'Afterlife', é a própria resposta para a pergunta lá do começo do texto. Após a vida incrível e inventiva que Harold Ramis teve, ele continua vivo com seu legado e com a paixão pela arte que contagiou tantas outras pessoas da indústria que vieram depois dele. Os Caça-Fantasmas ainda respiram, e os fãs podem dormir tranquilos pois a história que tanto amam está em boas mãos. 


Super Vale Ver!



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