'Cabeça de Nêgo' : o racismo velado e os reflexos de uma educação sucateada | 2021
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
'Cabeça de Nêgo', longa de estreia do cineasta Déo Cardoso, foi uma das produções de maior repercussão quando chegou às telas do Festival de Cinema de Tiradentes no início do ano. Teve passagem rápida pelos cinemas e acaba de chegar no streaming do Globoplay. A mensagem é direta e cortante no que tange a situação da educação no Brasil, entre outras questões envolvendo racismo. Muito embora o longa produza um discurso catártico nesses assuntos, há alguns pontos de exagero que pretendo exemplificar a seguir.
O longa acompanha a história de Saulo (Lucas Limeira), um estudante de escola pública, que passa por um episódio de racismo na sala de aula. Quando percebe que o crime não será reparado pela diretoria, ele se recusa a sair da escola até que se faça justiça. É nesse momento que ele desperta uma revolução estudantil e um problema grave à diretoria, preocupada acima de tudo com a imagem da escola.
Banheiros entupidos, cozinha infestada de ratos, falta de livros didáticos e por trás disso, verbas desviadas que não chegaram às mãos de quem devia para a resolução de tantos problemas. As reivindicações em um manifesto elaborado pelos alunos deveria ser assinado pelo secretário de educação para que o aluno que desencadeou a movimentação de resistência abandonasse os planos de uma ocupação. É aí que o realizador deixa claro que existem dois lados: o de quem boicota a educação e lucra com isso, e aquele que é prejudicado por esse boicote.
Desse momento em diante, a inserção de assuntos recém noticiados pela mídia, como discriminação em níveis bestiais ou mesmo pelo polêmico debate sobre nome de torturadores em praças, ruas e no caso aqui, da escola que 'sedia' a revolução, vão compondo o discurso de Cardoso, que em algumas sequências apela para tonalidades panfletárias um tanto forçadas citando referências mundiais na luta contra o racismo, - como Angela Davis por exemplo -, mas que na sequência final se redime ao apostar na ação e no embate com certeiro êxito.
Diretamente inspirado no movimento dos Panteras Negras, 'Cabeça de Nêgo' tem a cara do novo cinema brasileiro, que assume sua porção de protesto e conscientização. Um cinema que coloca na vitrine as escaras de um Brasil que ainda tem muito por se redimir - ao menos ainda existe alguém dando a cara pra bater enquanto um milagre não acontece.
Vale Ver!
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