'Compartment No. 6': Construção de amizade improvável é tônica de longa finlandês | 2021

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

A adaptação do romance homônimo de Rosa Liksom que levou o grande Prêmio do Júri em Cannes é uma história que poderia passar despercebida se tivesse sido manuseada por um realizador menos sensível aos detalhes;  mas  Juho Kuosmanen, talvez por guardar um frescor como qualquer iniciante , faz de seu 'Compartment No. 6' uma experiência que leva o expectador em uma espécie de rodie movie com características muito próprias e também atraentes, muito pela construção da relação entre duas pessoas totalmente estranhas.  

Na trama seremos apresentados a finlandesa Laura (Seidi Haarla). Ela resolve deixar Moscou, onde vivia com Irina, sua namorada, e atravessa a Rússia a caminho de Murmansk, no intuito de encontrar um campo arqueológico. No mesmo vagão do trem, ela precisará conviver por alguns dias com Vadim (Yuriy Borisov), minerador que se dirige ao local para encontrar trabalho. 

À princípio, como já vimos em muitas narrativas por aí, o estranhamento inicial entre os protagonistas é quem conduzirá a curiosidade do espectador pelos trilhos desse trem com muitas paradas, onde vamos percebendo mudanças no comportamento e na receptividade de cada um deles para se abrir ao desconhecido. É inevitável a empatia gerada no público independente dos mistérios e da vida pregressa de cada um deles - Laura tem uma breve aparição na abertura, o que favorece nossos conceitos em relação à sua personagem. Já Vadim é introduzido na cabine do trem , tem cara de poucos amigos e consome muito álcool, pairam sobre ele os piores pensamentos acerca de sua índole. 

O grande diferencial aqui é a desconstrução da ideia que fazemos dessa relação, que vai se transformando diante dos olhos da audiência. A condução do praticamente estreante Kousmanen é elegante e os ângulos são precisos para criar magnetismo. A direção não se distrai com as muitas armadilhas narrativas que poderia incorrer,  como por exemplo apelar para firulas somente para atrair o grande público. O resultado é um filme tão poderoso quanto intimista. 'Compartment No. 6' deixa claro que o que importa não é como se chega ao destino mas o que se conquista ao longo do percurso. 

'Compartment No. 6', que também está na seleção do Festival do Rio, já aparece nas principais premiações onde concorre a Melhor Filme Estrangeiro pela Finlândia. 

Vale Ver!