'Diários de Otsoga' - Mais um exemplar da boa fase do cinema português | 2021
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
É notória a visibilidade que o cinema português tem ganhado de uns anos pra cá. Poderia citar aqui facilmente três títulos que romperam o fechado circuito exibidor brasileiro e ganharam datas de estreia: 'O Ornitólogo' ( elogiado drama queer em coprodução com Brasil e França) , 'Comboio de Sal e Açúcar' (do veterano Licínio Azevedo) e ainda 'Cartas da Guerra', ambos lançados entre 2016 e 2017, são alguns exemplos da boa fase do cinema lusitano.
Em 'Diários de Ostoga', do cineasta Miguel Gomes que aqui divide o posto com Maureen Fazendeiro e faz parte da seleção do Festival do Rio esse ano, a proposta é experimentar. O ambiente de metalinguagem é galgado aos poucos e essa é uma das grandes boas sacadas da produção, que não atingirá o grande público, mas que pode se tornar uma espécie de queridinho dos fãs do cinema fora da curva, do cinema experimental.
A narrativa acompanha a jornada de Crista (Crista Alfaiate), Carloto (Carloto Cotta) e João (João Nunes Monteiro), três amigos que estão em um sítio construindo uma estufa para borboletas e compartilham rotinas domésticas. Entretanto, com o passar dos dias, vamos descobrindo que ali habitam mais moradores e que todos estão envolvidos no mesmo projeto.
Aos poucos também vamos descobrindo que estamos vendo uma narrativa de trás pra frente (como se fosse um diário folheado da página 22 para a página primeira) e que todos estão em um regime de confinamento em função da Covid-19. Sim, estamos falando de uma produção que está sendo feita na ocasião da quarentena, num dos momentos mais críticos da pandemia. E o melhor disso tudo é que vamos realizando aos poucos o que está se passando ali: um filme dentro do outro, com o plus de não sabermos onde um começa e o outro termina. A câmera é despretensiosa e os atores estão tão à vontade que nem parece haver um roteiro.
É certo que a pandemia ainda servirá de tema ou mesmo pano de fundo para muitas histórias que ainda virão por aí. 'Diários de Otsoga' se torna especial não só pelo formato, mas por colocar em voga a reinvenção e os desafios do audiovisual nesse momento pandêmico, um seguimento dentre os mais afetados pela peste. Uma muralha rompida através do amor à arte, e claro, pela criatividade e o senso de urgência em não deixar a morte vencer o sonho.
Vale Ver!
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