'Ela e Eu' e a resiliência gerada pelo amor | 2021
NOTA 8.5
Por Karina Massud @cinemassud
Há quem diga que o amor não resiste à distância, ao tempo ou à morte. Eu discordo. O amor verdadeiro supera todas as adversidades impostas pela vida.
Na trama de “Ela e Eu”, que está na competição do Festival de Brasília 2021, Bia (Andréa Beltrão) é uma mulher que, ao dar à luz a sua filha, entrou em coma e nesse estado ficou por 20 anos. E nessas duas décadas ela foi cuidada pelo marido, sua atual mulher e sua filha. Uma situação absolutamente inusitada que ninguém esperava que fosse mudar e causar uma reviravolta na vida de toda família, pois um dia Bia recobra a consciência.
A narrativa gira em torno dessa volta à vida da protagonista, como ela vai reaprender tudo, o nome das coisas que a rodeiam, andar, falar e principalmente conhecer e conviver com sua filha, agora adulta, e sua nova família. É uma reconstrução e um processo de ressignificar a vida para todos. O diretor Gustava Rosa de Moura imprimiu delicadeza num tema espinhoso e numa situação que facilmente descambaria em drama e tensão. Por mais que façamos planos, não temos o controle de muita coisa, vem o destino, bagunça tudo e nos surpreende. Mas a impermanência da vida é exposta de forma doce, especialmente na figura das mulheres fortes da trama.
O elenco de peso garante a emoção ao roteiro simples escrito a três mãos pelo diretor Gustavo Moura, por Leonardo Levis e também por Andréa Beltrão, que foca no amor em família, na resiliência dos últimos 20 anos e na imprevisibilidade atual. Acompanhamos o quotidiano dessa família classe média, suas refeições regadas a carinho, papos banais e também algumas discussões, como acontece em qualquer casa.
“Ela e Eu” é um filme de quotidiano como os ótimos “Benzinho” e “Que Horas Ela Volta?” que têm o grande brilho garantido pelo elenco de peso, Andréa Beltrão, Eduardo Moscovis, Mariana Lima, Karine Telles e Lara Tremouroux. Andréa Beltrão está magistral no papel de Bia, essa mulher de espírito livre que tem que recomeçar, encarar que depois desse tempo todo seu marido seguiu em frente, e criar laços com a filha que é uma estranha. Uma atriz mediana cairia fácil na caricatura dos gestuais de um deficiente físico, mas ela não, o caminhar e o falar são perfeitos; ela domina e rouba a cena mesmo quando o silêncio cortante e o constrangimento dominam o ambiente. Destaque pra um dos momentos mais comoventes do filme, em que ela e Du Moscovis, com poucas palavras e um beijo terno, “resolvem” toda a relação que foi interrompida com a tragédia do coma.
A história transcorre num ritmo lento e gostoso, com uma trilha sonora linda que potencializa as emoções tão singelas. Os pequenos prazeres como um dia na praia são saboreados e valorizados minuto a minuto, e nos fazem pensar que muitas vezes não damos bola pra momentos tão preciosos que talvez sejam únicos. O que importa nessa vida é a vida que a gente leva. As lágrimas brotam mesmo, não se furte de deixá-las cair.
Vale Ver!
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