'Imperdoável' – Quando uma condenação nunca tem fim | 2021
NOTA 6.5
Por Karina Massud @cinemassud
Alguns crimes são julgados, o réu sentenciado, cumpre a pena mas a condenação segue com ele pelo resto da vida, deixando-o estigmatizado como se tivesse uma letra escarlate na testa, como é o caso do assassinato de policiais. Quem mata um policial jamais se livrará dessa marca. “Imperdoável”, adaptação Netflix da minissérie homônima de 2009, acompanha o drama de Ruth Slater, que depois de passar 20 anos na prisão por assassinar um xerife, tem que enfrentar o preconceito massivo e os obstáculos para reencontrar sua irmã, que era pequena na época do crime e talvez não se lembre mais dela por ter sido adotada por outra família.
A sociedade não está disposta a aceitar Ruth de volta, pelo contrário, continua a puni-la, ela se tornou invisível ou na melhor das hipóteses dispensável pro mundo. Sandra Bullock, que também produz o filme, se empenhou ao viver a ex-presidiária: ela tem o semblante triste e profundamente sofrido, anda descabelada e de moleton surrado como se nada mais importasse na vida. Esse é um filme sobre segundas chances - que a sociedade dificilmente concede - e sobre o excesso de crueldade que ela deixa emanar. O peso de algumas penas, mesmo depois de cumpridas, jamais garantirão a liberdade plena.
A narrativa se divide em quatro: a busca de Ruth por sua irmã; sua luta pra se reintegrar na sociedade; a sanha dos filhos do xerife assassinado por vingança e a resistência do advogado, que por acaso é morador da ex-casa da protagonista, em pegar o caso. Tudo intercalado com flashbacks do dia fatídico do crime, que quase não tem apelo e desemboca numa revelação comum em tramas do gênero. Todas essas histórias tinham um grande potencial para serem desenvolvidas mas infelizmente não lograram êxito, foram tratadas superficialmente, e apenas se cruzam de forma embolada em poucos minutos na sequência final.
A diretora do longa é a alemã Nora Fingscheidt, do sensacional “Transtorno Explosivo” (2019), um filme de um impacto enorme que ela não conseguiu repetir em “Imperdoável”, que não tem grandes momentos apesar de bem dramático, quase escorregando pro apelativo. O elenco estrelado (Sandra Bullock, Viola Davis, Jon Bernthal, Richard Thomas) também não conseguiu salvar o filme, que provavelmente será esquecido em pouco tempo. Viola Davis brilha como de hábito, e é dona da melhor cena da trama, onde ela e Ruth discutem acaloradamente.
O final emociona e é bem satisfatório comparado a trama num todo. Assim como em “Era Uma Vez Um Sonho” (2020) e “A Mulher na Janela” (2021), aqui a Netflix nos entrega mais uma tentativa de “Oscar bait” (a famosa “isca” para Oscar) frustrada e um desperdício de roteiro, diretora e elenco excelentes. Uma pena.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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