'Matrix: Resurrections' é um upgrade construído sobre o retrocesso | 2021
NOTA 7.0
Bem-vindo à quebrada!
Por Vinícius Martins @cinemarcante
'Matrix Resurrections', que é o quarto capítulo da trilogia Matrix, é um daqueles filmes que o cinema joga no nosso colo dizendo "ame ou odeie", com uma premissa que leva todos a indagarem o porquê do regresso ao universo do Escolhido. Sim, Neo está de volta, assim como Trinity, Morpheus, Smith e outras figurinhas carimbadas dos fãs dos filmes anteriores - contudo, em rostos diferentes e com algumas capacidades aprimoradas. Enquanto se preocupa em justificar a própria existência em um mundo saturado de filmes que emulam o clássico oscarizado de 1999, o novo Matrix apela à modernidade com a mesma intensidade que acaricia os fãs com referências e reencenações de alguns trechos consagrados do primeiro longa.
A criatividade de Lana Wachowski em situar Resurrections é satisfatória, mas as motivações que levam a isso vão dividir os fãs mais antigos da saga. De um lado temos saídas engenhosas e acréscimos muito interessantes ao teor mitológico de Matrix, e do outro lado temos uma série de ressignificações que soam pífias ou, na melhor das hipóteses, demasiadamente cafonas. O que faz 'Matrix: Resurrections' se valer é a sua vertente crítico-satírica ao mundo real (ou, se preferir, o mundo moderno que vivemos atualmente). Os monólogos sobre a inclinação humana a permanecer na ilusão são fantásticos, e rendem ótimos debates filosóficos quanto ao nosso comportamento de manada. Contudo, apesar de se parecer com Matrix, ter cheiro de Matrix e propor o mesmo olhar analítico que Matrix contém, falo muito honestamente que não é Matrix. Claro, é canônico e faz arrepiar em alguns momentos chave, mas falta-lhe o fator que consolidou 'Matrix' vinte e poucos anos atrás: a contemplação. E a contemplação que falta é tanto a audiovisual quanto aquela presente na percepção da própria pequenez.
Falta às cenas (as de ação, principalmente) aquele peso do vislumbre de cada movimento, da compreensão nítida daquilo que se passa em cena. Nesse aspecto 'Resurrections' peca bastante, entregando um filme sem refinamento e que em muito se parece com os inúmeros outros filmes de ação com sequências picotadas, onde o entendimento do público sobre o que acontece em tela exige um esforço extra que seria desnecessário se houvesse um acabamento mais requintado. Talvez Lana quisesse se afastar dos estereótipos visuais de sua própria obra-prima para entregar algo novo, talvez; só que esse dito novo é um velho traço criticado nos filmes do gênero. Dentre os que o amaram e os que o detestaram, fica o consenso (isto é, como pude perceber após a sessão) que a ideia foi boa mas a concepção nem tanto. Não me levem a mal, o filme é bom, mas a urgência e o risco ficam limitados às quatro retas que contornam o retângulo da tela. É difícil se importar de verdade ou crer que o perigo é, de fato, mortal, pois fica sempre a sensação de que o roteiro quer enganar seus espectadores esticando algumas resoluções apenas para postergar o resultado inevitável da trama.
Mas não se acanhem com essa observação, assistam ao filme e tirem as próprias conclusões. Cinema, como bem sabemos, muitas vezes se vale mais na jornada do que na conclusão dela - e a jornada de 'Matrix: Resurrections' é uma leitura social satisfatória e uma nostalgia calorosa, que tem os mesmos ingredientes que os anteriores e consegue tirar disso um gosto diferente. Entre ameaças que lembram os zumbis de 'Guerra Mundial Z' (2013) e criaturas maquinárias que recordam vagamente 'Atlantis: O Reino Perdido' (2001), 'Matrix: Resurrections' flerta com o imaginário dos fãs e acena para um futuro totalmente novo, que está aí para a apreciação de todos para o bem ou para o mal.
Vale Ver!
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