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'Madres Paralelas' : Almodóvar mistura política e maternidade como só um mestre poderia fazer | 2021

NOTA 9.0 

Por Rogério Machado 

Que o espanhol Pedro Almodóvar domina o universo feminino como ninguém, todos nós sabemos. Seus filmes já nos apresentaram inúmeras personagens potentes: heroínas românticas, politicamente incorretas, deliciosamente devassas ou ainda exageradamente pudicas. Muitas são as facetas dentro de um universo tão rico e diverso como o desse cineasta  com mais 20 filmes e do alto dos seus incríveis 72 anos de idade. 'Madres Paralelas', seu mais novo trabalho que no Brasil chega pelas mãos do Festival do Rio, também exalta as mulheres e a maternidade, mas sempre com novos temperos e propondo novas discussões. 


Na trama Penélope Cruz é Janis (nome dado por sua mãe em homenagem a rock star Janis Joplin), uma mulher de meia idade que atua como fotógrafa, e Ana (Milena Smit), uma jovem adulta mas que vive às custas da mãe, uma atriz que busca seu lugar ao sol. Em fases distintas das respectivas vidas, encontram-se numa situação semelhante: elas estão num quarto de hospital prestes a dar a luz, mas enquanto Janis anseia em ser mãe, Ana tem medo de não conseguir criar a criança. 

Com o passar dos dias, as duas se aproximam e partilham as benesses e as dificuldades da maternidade. Mas além de cuidar da filha, Janis tenta ainda avançar com um processo de escavação e exumação dos restos mortais do seu bisavô, morto durante a Guerra Civil espanhola. Para isso ela conta com a ajuda do arqueólogo Arturo (Israel Elejalde), homem com quem acaba se envolvendo. 

A gravidez 'por acidente'  e a forma com que cada uma dessas mães estreantes lidam com a maternidade é a tônica que movimenta o primeiro ato de 'Madres Paralelas', mas a seguir, como de costume nas tramas de Almodóvar, somos surpreendidos com dois plot twists praticamente seguidos que rementem à um suspense altamente dramático, que propõem debates que passam por índole e pequenos ajustes que o destino faz ao longo das nossas vidas. À primeira vista o roteiro pode soar trivial e novelesco, mas, como bom entendedor do universo feminino e por inserir sutilmente crítica à violência da guerra e o quão politiqueiros podem ser os desdobramentos de um evento descerebrado como esse, é que temos um desses pratos não somente requentados com eficiência, mas repaginados com características que só os grandes chefes conseguem fazer. 

Almodóvar continua sendo aquele realizador que valoriza histórias e personagens, - sobretudo as mulheres - faz deles a razão de ser de seus filmes, e o resultado é inevitável: identificação imediata. Além claro de sempre termos aqueles vermelhos e laranjas vibrantes, as marcas registradas visuais de Almodóvar, que com o passar do tempo não nos permitimos a ficar sem. 


Super Vale Ver!



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