'O Festival do Amor' : A tradicional e extraordinária fórmula Allen de fazer cinema | 2021
NOTA 8.5
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Com uma das mais vastas filmografias do cinema, Woody Allen continua a todo vapor no alto de seus 85 anos. De uma forma muito autoral, sua vida e obra se entrelaçam, tornando seus trabalhos extremamente pessoais. Com uma boa dose de humor ácido e diálogos que vão do niilismo ao existencialismo, 'O Festival do Amor' reúne toda a fórmula Allen em uma narrativa que pode até ser acusada de mais do mesmo, mas vale cada minuto.
Na trama acompanhamos Mort Rifkin (Wallace Shawn), um ex-professor que viaja a Espanha com sua esposa, Sue (Gina Gershon) para participar de um festival de cinema. Após desconfiar da relação de sua companheira com um famoso diretor francês, Mort passa a enfrentar dilemas sobre seu passado e presente enquanto explora a bela San Sebastian.
Woody Allen sabe como ninguém nos apresentar cenários e nos conectar a eles. Seus filmes, em especial aqueles rodados na Europa ou em Nova York, parecem prestar verdadeiros tributos as cidades onde se passam, tornando-os não só parte da história, mas um personagem à parte. Aqui cada enquadramento é pensado de modo a exaltar a beleza e placidez do local, qualidades constantemente verbalizadas pelos personagens, mas nunca de um jeito óbvio, afinal tão bom quanto sua habilidade com ambientações, o cineasta, que também assina o roteiro, é um exímio contador de histórias e criador de diálogos de dinamismo e densidade quase palpáveis, em boa parte de forte teor reflexivo, tudo sem abrir mão do bom humor.
Não há nenhum grande destaque no que se refere as atuações, mas o carisma de Wallace Shawn é digno de nota e a afeição a seu personagem é quase instantânea, - seja por seu jeito de ver a vida ou como lida com ela - o fato é que sua atuação nos faz recordar as do próprio Allen em filmes anteriores, por vezes parecendo emular alguns de seus maneirismos. Se foi proposital ou não é difícil afirmar, mas Shawn se encaixou perfeitamente na proposta e segura o protagonismo até o fim.
O filme assume um caráter de tributo de forma bastante direta e objetiva, constantemente evocando obras e personalidades dos quais o diretor se inspira, como Bergman, Fellini, Orson Welles, Godard e Truffaut. Essas homenagens e referências se apresentam como uma carta de amor ao cinema e também abrem brechas da sua tradicional crítica à indústria cinematográfica, dando a essa mistura mais um de seus elementos típicos, atributos esses muito presentes, por exemplo, em 'Meia Noite em Paris' (2011), um de seus melhores trabalhos.
Como todo gênio criativo, Woody Allen tem uma carreira que está longe de ser unanimidade de público ou crítica, mas é inegável sua importância e relevância não só para a sétima arte, mas a arte como um todo.
Vale Ver!
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