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Com incrível atuação de Kristen Stewart, 'Spencer' é a síntese de uma tragédia anunciada | 2022

NOTA 9.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica

‘Uma fábula inspirada em uma tragédia real’.  Assim começa Spencer, novo filme de Pablo Larraín, mesmo diretor do excelente ‘Jackie’, que aqui repete seu feito ao trabalhar uma figura histórica com todas as suas nuances e complexidades. Envolto a simbologias e metalinguagens, o novo longa do cineasta anuncia sua proposta já na frase inicial, não deixando dúvidas quanto as suas intenções ao articular uma narrativa à partir de um breve período na vida de Lady Di, onde sintetiza todo o imaginário popular que essa personagem desperta, ou seja, uma mulher solitária em seu íntimo, oprimida por tradições arcaicas e sufocada pela fama que a levaria a um trágico fim.

A trama se passa em Dezembro de 1991, data em que a família real se reúne para as comemorações do Natal na tradicional Sandringham House, casa de campo localizada em Nortfolk, Inglaterra. Em meio à ritualística da realeza e toda hostilidade imposta no cumprimento de seus deveres, acompanhamos uma breve trajetória cercada de dilemas, angustias e tirania.

A escolha pelo título, 'Spencer', não é por acaso. O uso do nome da família de Diana é mais um dos artifícios inseridos para demarcar os limites de seu enredo voltado ao desenvolvimento de uma personagem cujo destino todos conhecem, porém muito se especula sobre o que ela sentiu e viveu. Assim como em ‘Jackie’, Larraín conduz seu argumento entre o real e o simbólico, dessa vez usando a imagem de Ana Bolena, dando às cenas de suas aparições um caráter onírico e delirante, dessa forma trabalhando com ambos os mitos, traçando uma linha entre o moderno e o contemporâneo. 

Os enquadramentos não apenas dão suporte ao roteiro como auxiliam na criação da atmosfera necessária para engajamento da proposta. Em ambientações externas são exploradas tomadas abertas, quase sempre em plano geral, colocando em destaque o desejo por independência e liberdade. Já nas locações internas o uso do plano detalhe e close-ups ressaltando sentimentos e ressentimentos.

Kristen Stewart, dos gestos ao sotaque, está perfeita como uma Diana que vai além dos tabloides, revistas de fofoca ou documentários sensacionalistas. A interpretação é um retrato fiel e humanizado de uma das personalidades mais idealizadas dos últimos anos. Pouco sobra para os coadjuvantes, com exceção de Sally Hawkins e Timothy Spall, - com uma cena de impacto para cada um -, porém sempre eclipsados pela presença marcante de Stewart. 

Com um ritmo bem cadenciado e uma riqueza de detalhes visuais e narrativos típicos de Larraín, 'Spencer' oferece camadas adicionais à uma história já muitas vezes contada, entretanto, graças ao brilhantismo do seu realizador e toda poética envolvida na forma de contar, é possível a reflexão não apenas do que assistimos, mas de suas consequências. Se trata de sofrer em silêncio, da opressão de um sistema, da busca por liberdade e autonomia. Mais do que sobre uma princesa, 'Spencer' é sobre todos nós.


Super Vale Ver!




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