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'Os Olhos de Tammy Faye' – quando pequenas igrejas se tornam grandes negócios | 2021

NOTA 7.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Religiões desde sempre fascinam e confortam a humanidade, principalmente em momentos de dificuldade e aflição. No entanto são justamente nessas fragilidades nas quais muitas religiões se apegam para explorar desavergonhadamente seus fiéis, prometendo o reino dos céus e abundância infinita aqui no plano terreno, prosperidade essa que só chega para quem recebe o famoso dízimo abusivo, nunca para quem dá.

Baseado no documentário homônimo de 2000, “Os Olhos de Tammy Faye” narra a história do casal “Barbie e Ken evangélico: Tammy Faye e seu marido Jim Bakker, que fizeram sucesso pregando sua religião em programas de tevê bem infantis, com fantoches de pano e linguajar simplório, ganhando assim rios de dinheiro. O televangelismo foi uma febre nos EUA nos anos 70 e 80, quando pastores disseminavam a palavra de Deus  pela televisão, e quanto mais esse movimento se tornava um fenômeno, mais polêmica gerava, pois ficou marcado por ter pastores suspeitos e fiéis bobos dispostos a tudo.

Jessica Chastain está soberba no papel de Tammy, uma mulher que era uma caricatura ambulante, com cabelo armado de laquê, unhas enormes, roupas em tons pastel e maquiagem exagerada a ponto de fazê-la parecer uma boneca de cera, que ainda ostentava uma voz infantil irritante. Andrew Garfield também brilha com voz pausada, cabelo duro que parece uma peruca, terno azul bebê cafona e carisma nas alturas. Ambos estão em atuações dignas de prêmios, com trejeitos, risadas e timbre de voz perfeitos. O impecável trabalho de maquiagem ajuda no excesso visual do casal extravagante - no subir dos créditos inclusive, há a tradicional comparação de ficção com realidade e a semelhança é incrível.

A narrativa transcorre linear, desde a infância pobre dos protagonistas, o encontro, início da evangelização, até a construção do império televisivo religioso que faturava milhões em cima da pregação aos fiéis incautos. A estética televisiva dos anos 70 é reproduzida com perfeição e promove uma experiência imersiva nos sermões que estavam bem longe da verdadeira espiritualidade das Sagradas Escrituras. O foco do casal era uma vida de luxo e ostentação bancada pelos fiéis, característica de alguns líderes de igrejas ainda nos dias de hoje. Tudo muito exuberante: cores, roupas e música gritam na tela, o que torna o filme no mínimo divertido por tanta cafonice.

O casal pegava pesado e pedia doações generosas em nome de Deus para manter seu estilo de vida nababesco; Jim Bakker ainda é vivo e, acreditem se quiser, outro dia estava oferecendo a cura pra COVID na tevê. Escândalos sexuais, corrupção, evasão fiscal e excessos diversos são maquiados de bom caratismo e vida cristã irretocável: tais desvios e acusações foram pouco explorados na trama, falta profundidade nas polêmicas e no lado psicológico rico dos personagens. Outra falha é que o roteiro é mostrado como se já conhecêssemos os personagens e suas histórias, então é válido  fazer uma pesquisa prévia sobre eles para entender melhor a trama.

O roteiro não julga ou condena a dupla muito menos seu modo de vida - o verdadeiro tempero do filme estaria nessa polêmica irresistível – mas mostra o que aconteceu em takes que tem um formato de documentário, com depoimentos de Tammy, que narra tudo sob o seu ponto de vista.  O império criado por eles começa a ruir justamente quando ela mostra o seu lado mais humano e passa a apoiar os homossexuais contaminados pelo HIV, o que casou uma enorme balburdia no meio evangélico altamente conservador.

“Os Olhos de Tammy Faye” é uma boa história de exploração da fé alheia e de ambição cega, com ótima produção, estética esfuziante e principalmente ótimo elenco, qualidades  essas que tornam o filme digno de nota. 


Vale Ver!




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