'A Felicidade das Pequenas Coisas': a educação como salvação no país mais feliz no mundo | 2022
NOTA 8.5
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
A época de premiações está a todo vapor e para delírio e frustração dos cinéfilos de carteirinha, os destaques da temporada vão ganhando o devido reconhecimento graças a relevância ainda presente nesses eventos, em especial, o Oscar, que apesar das constantes críticas e quedas cada vez mais acentuadas na audiência, permanece como principal premiação do ano. Mesmo com toda controvérsia dos processos de escolha da academia, sua importância se dá não apenas no prestigio atribuído aos nomeados, mas também a visibilidade, uma vez que os festivais ainda são pouco conhecidos do grande público. A categoria de filme internacional, uma vez relegada a um papel secundário, vem ganhando espaço a cada ano e com isso projetando obras que antes não ganhariam tamanha atenção.
Com cerca de 40 títulos em toda sua história cinematográfica, o Butão é a maior surpresa do ano, não só pelo baixo número de produções que registra, mas também pela excelência com que nos mostra toda sua beleza, particularidades e riquezas culturais.
Escrito e dirigido por Pawo Choyning Dorji, na trama acompanhamos Ugyen (Sherab Dorji), um professor e aspirante a cantor que sonha em sair do país para seguir carreira na música. Em meio a insatisfações com a carreira e barreiras burocráticas para obtenção de visto, o jovem é enviado pelo governo ao vilarejo de Lunana, local cuja escola é conhecida como a mais remota do mundo.
Com um roteiro simples e até previsível, “A Felicidade das Pequenas Coisas” compensa sua pouca originalidade na delicadeza com que coloca seus argumentos, e dado a força de cada um é encantador como o enredo se desenvolve não como uma lição de vida, mas como um passeio entre amigos.
A técnica aplicada é extremamente imersiva e convidativa, a começar pela fotografia com planos abertos que valorizam as belas paisagens montanhosas do país, além de enquadramentos dando a perfeita noção e sensação de isolamento e vastidão, transformando as locações em personagem, e por vezes até em protagonista. Dada a familiaridade do realizador, nada é executado de maneira óbvia, como um guia para olhares curiosos, mas de forma contemplativa e poética. A montagem é precisa ao estabelecer um ritmo quase didático, algo necessário para introdução a esse mundo, geográfica e culturalmente tão distantes de nós. Com personagens extremamente carismáticos, as atuações são muito convincentes e de fácil engajamento, em especial Pem Zam, a doce e sorridente líder da turma.
Apesar de não se limitar a oposição entre campo e cidade, o longa carrega em sua essência essa pureza da vida interiorana onde, em suas próprias palavras, “os professores tocam o futuro” e a educação é parte primordial para uma vida melhor. A condução da narrativa pode soar familiar, porém, a percepção da felicidade contida nas pequenas coisas também nos leva a ideia de o melhor da existência estar na simplicidade, do que é essencial que a dinâmica de posses, dos desejos e consumo desenfreado nos impede de ver. Para melhor aproveitamento durante toda a projeção é recomendável entrega e desapego, sem esperar por surpresas, afinal pode não ser uma experiência transformadora, mas será, no mínimo, recompensadora.
Vale Ver!
Deixe seu Comentário: