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'Hermanoteu na Terra De Godah' : renovação na linguagem faz bem ao sucesso teatral | 2022

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

Em 1995 a companhia de teatro Os Melhores do Mundo trazia aos palcos a montagem de 'Hermanoteu na Terra de Godah', uma sátira envolvendo  comportamento e política se pautando nas famosas histórias bíblicas. À primeira vista tal mix pode causar estranheza por flertar com heresias, sobretudo porque estamos em um país altamente cristão, mas ainda que permeado de piadas envolvendo acontecimentos da trajetória de Jesus, é perceptível o respeito da produção em manusear o tema, ainda que claro existam alguns excessos que naturalmente são inerentes ao cômico. 


A trama tem seu ponto de partida quando o Cardeal Gerônimo (Jonas Block), prestes a se tornar o novo Papa, toma conhecimento formal de um grande segredo, mantido em total sigilo durante anos pela Igreja Católica. Enquanto descobre a verdade a respeito dos apóstolos de Cristo, ele tem como fio condutor o destemido Hermanoteu, que ao longo de sua vida participou de momentos históricos e bíblicos cruciais, sempre se metendo nas piores enrascadas possíveis.

Hermanoteu (Ricardo Pipo), filho de Olonéia e irmão de Micalatéia (um nome que, anote aí, marcará toda a trama) é um típico hebreu do ano zero – camarada, bom pastor e obediente –, recebe uma missão divina: ir até a Terra de Godah. Em busca dessa terra prometida e  passando por um imenso deserto, Hermanoteu viverá momentos que passam por um encontro com um César (o imperador de Roma) afetado que está dando uma festa gay, até uma reunião com Cleópatra, que abriga Isaque no Egito achando que ele é um eunuco. 

Seguindo a linha de sátiras do grupo, a obra, como já é de conhecimento do público, visita a diversidade fantástica do Livro dos livros: entre as densas páginas do Antigo Testamento, ou acontecimentos mais recentes do novo testamento, que vão desde a tentação de Cristo até o episódio da mulher adúltera, encontramos esse pacato protagonista, perambulando por domínios romanos, entre pestes, bárbaros e deuses pagãos. Um homem que teria sido omitido das Escrituras e na verdade estaria entre os escolhidos de Jesus, aqui tem como seu maior conselheiro o apóstolo Judas, entre outras heresias que só funcionam bem diante desse delicioso festival de excessos promovidos por um roteiro bem conduzido e (contraditoriamente?) redondo. 

Uma comédia que, apesar de épica, faz inúmeras citações da atualidade e aproxima o passado do presente pela muita comicidade, ironia e ainda lançando mão de referências cinéfilas marcantes na história do cinema, como 'Cidade de Deus' (2002) e 'O Rei Leão' (1994), esse último fechando uma cena hilária com Hermanoteu numa arena romana. 

Todo o elenco da montagem para o teatro está presente também na tela grande: Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes, Victor Leal e Welder Rodrigues se revezam em outros papéis, fazendo com que a jornada do protagonista seja uma tour de humor por personagens caricatos. A comédia ainda reserva uma surpresa ao público; a voz em off do ícone Chico Anysio interpretando Deus (assim como na montagem original), um presente para a audiência e uma justa homenagem ao maior dos maiores. 



Super Vale Ver!




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