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'Júpiter': trama sobre paternidade com pretensões Indie é instável, mas envolvente | 2022

NOTA 7.0 

Por Rogério Machado 

A ideia de 'Júpiter', novo longa nacional produzido pela HBO Max sob a direção do cineasta Marco Abujamra, nasceu da vontade do realizador em discutir novos arranjos familiares em uma produção audiovisual, que segundo ele não é muito vista no nosso cinema. Olhando por esse prisma é possível dizer que a produção tenha se saído bem, sobretudo pelo destino dado aos personagens centrais e suas escolhas respectivamente. Porém, é também coerente dizer que um longa não se resume por uma ideia. 


A trama acompanha o jovem Júpiter (Rafael Vitti), que é resultado de uma relação extra-conjugal de Mario Santana (Orã Figueiredo). Mario é um detetive e tem como especialidade descobrir casos de adultério, e após enfartar bem no meio de uma ação, ele é  surpreendido com a notícia desse filho que ele nem imagina o quanto isso, contrariando todos os prognósticos, poderia ser ao invés de problema uma benção em sua vida. Júpiter se revela um exímio jogador de xadrez (esporte esse pelo qual Mário é apaixonado), mas quando o pai precisa lançar mão dele no trabalho de investigação, esse mostrará não ter o mesmo talento que o pai. 

É esse talento do garoto para o xadrez que vai estabelecer a ligação entre dois humanos completamente estranhos que precisam se aproximar por conta do laço que os une. Pelo menos de Mario para Júpiter, mesmo que seja através de um interesse em se dar bem através do garoto. 

Entre o susto do primeiro momento por descobrir um filho, e o forçar de uma afinidade que parece inexistente, há uma virada que pode mudar os rumos da história, mas que acaba não tendo a devida atenção da direção, que é a surpreendente descoberta que Júpiter faz através de uma câmera dada por Mário, na tentativa de fazer o garoto se interessar pelo mundo da espionagem. Por conta disso, o miolo da produção fica comprometido, em um ritmo arrastado que só é driblado na sequência final, quando Júpiter enfrenta o quarto melhor do mundo (Augusto Madeira, em uma participação discreta) num torneio  de Xadrez.

Visualmente o filme é bem interessante; tem uma fotografia atraente e percebe-se traços fortes do cinema Indie, porém essa marca não consegue ser bancada o tempo todo, talvez pelos rumos inconstantes percorridos pela trama nos quase 90 min de projeção. 'Júpiter' parte de uma boa ideia, mas que deixa a desejar tanto na construção de um protagonista relevante, quanto no desenvolvimento de um plot que trabalhe com maior ousadia, e (com o perdão do trocadilho) manuseie melhor as peças dispostas nesse imenso tabuleiro, cujo início da partida até promete  boas jogadas, mas ao final dela  falta coragem para um xeque-mate.

Ainda assim, a história desse órfão desajeitado e sem traquejo consegue o feito de envolver e gerar um estranho interesse acerca do que o rodeia. E há que se valorizar a tentativa no uso de uma linguagem raramente vista no nosso cinema.


Vale Ver!



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