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'Licorice Pizza': a febre do amor e a efervescência setentista | 2022

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

Paul Thomas Anderson está entre o seleto grupo de realizadores que promovem verdadeiros ballets em cena. A conjugação do perfeito enquadramento, unindo trilha e fotografia indefectíveis e personagens magnéticos, desses que marcam a história do cinema, formam o quadripé de seus projetos, com selos autorais fortes e  não raras vezes adorados por público e crítica. O super aguardado 'Licorice Pizza' tem todos os ingredientes já saboreados nessa vasta e feliz cinematografia com trabalhos como 'Boogie Nights' (1997), 'Magnólia' (1999) ou  o mais recente 'Trama Fantasma' (2017), mas com acréscimos que só reforçam o poder sem limites que o cineasta tem de se reinventar. 

A trama acompanha  Alana Kane (Alana Haim) e Gary Valentine (Cooper Hoffman) que vivem, cada um a seu modo, no Vale de San Fernando, mais precisamente no ano de 1973. Os dois se esbarram em um dia de foto na escola de Gary, onde Alana, muito a contragosto, está ajudando os fotógrafos. Depois de muita insistência de Gary, os dois, inquietos como são, iniciam alguns negócios, flertam, fingem que não se importam um com o outro e, inevitavelmente, se apaixonam por outras pessoas para evitar se apaixonar um pelo outro - já que há um  detalhe que impede que Alana pense melhor a respeito: ela tem 25 e ele ainda é um adolescente de 15 anos. 

Escrito e dirigido por Thomas Anderson, o filme atravessa as agruras do primeiro amor, e como Alana, uma jovem judia focada e ambiciosa, passa por essa jornada de autodescoberta: provando diferentes experiências, nomeando prioridades e verificando onde melhor se encaixa. Diferente de Gary que faz tudo pelo instinto, está iniciando uma carreira de ator em Hollywood com a ajuda dos pais, mas não tem certeza se esse é o melhor caminho. O rapaz está em constante mudança e com isso acaba, aos poucos, colhendo os frutos do amadurecimento. 

Em meio a guerra no Vietnã - que só é mencionada uma única vez na projeção, ou quando o presidente Lyndon Johnson aparece rapidamente num pronunciamento na tevê de uma lanchonete -, Thomas Anderson não esconde que está apostando todas as fichas na simplicidade e no afeto - não existe interesse algum em problematizar as relações ou lançar luz sobre os dilemas mundiais, mas se concentra em exaltar as cores, o descompromisso e a beleza do amor na juventude. 

Mais uma vez é preciso ressaltar a habilidade desse prolífico realizador em manusear uma trama despretensiosa e leve e transformá-la em um menu atrativo, rico e ao mesmo tempo fácil de ser degustado. Destaco a participação do veterano Sean Penn em uma espécie de caricatura do estereótipo de celebridade, no limite entre o sóbrio e o afetado. Em contrapartida, a passagem de Bradley Cooper não faz jus ao bom nível da trama como um todo.  De toda forma, são deslizes pontuais que em nada afetam os grandes acertos promovidos por um dos maiores cineastas que o showbiz já produziu. 


Super Vale Ver!



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