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'Uncharted - Fora do Mapa' é aventura escapista para ver sem compromisso | 2022

NOTA 6.0

Não se foi, só está perdido

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Quando se joga em primeira pessoa, principalmente jogos que contenham armas e violência física entre os avatares, o personagem se torna um reflexo da conduta de quem o controla. Em essência, o jogador que manipula o personagem é quem dita se ele é bom ou não, mesmo havendo um roteiro preliminar que determine seu caráter na história. O jogador é quem decide se vai atirar em NPCs indefesos ou em aliados, e no fim das contas a programação não impede pessoas más de cometerem atrocidades. De igual maneira, independente de um roteiro ser bom ou ruim, ocorre algo similar no cinema: é o empenho do intérprete que determina se ele será carismático ou não. Quantos filmes ruins não são adorados justamente pela simpatia que exala de seu elenco? Nesse caso, é notável o envolvimento de Tom Holland que, com vontade de fazer dar certo, esboça caras e bocas enquanto o roteiro se inclina para cada vez mais longe de seu material de origem e desfavorece a criação de uma identidade própria para a trama. 


O filme é pensado como uma adaptação do game de sucesso 'Uncharted' aos cinemas, com a promessa de iniciar uma nova franquia com rostos que possam envelhecer e amadurecer até se tornarem os protagonistas do jogo. Contudo, Tom Holland e Mark Wahlberg não lembram em nada seus respectivos personagens, Drake e Sully, tanto em silhueta quanto em comportamento. É como se o filme parodiasse o próprio título, uma vez que o material que temos aqui definitivamente não se parece com o 'Uncharted' que conheci anos atrás no PS4. Aos fãs puritanos, que esperam uma fidedignidade legítima à obra que tanto amam, é quase certa a decepção; aos espectadores casuais, no entanto, o filme tende a ser uma aventura escapista bem ao estilo dos filmes oitentistas, mas sem o charme próprio daquela época. Existe, é claro, o argumento de que a dupla protagonista está iniciando o caminho para se tornar aqueles Nathan Drake e Victor Sullivan, mas a relação de mentoria aqui é esguia e por várias vezes perde a naturalidade. As cenas de ação tem um saldo positivo, que talvez tenha sido um "erro acertado", por assim dizer. Nos dois momentos-chave de confrontos amplamente divulgados no marketing da Sony, o CGI se caracteriza praticamente como uma cutscene.

A direção de Ruben Fleischer (de 'Zumbilandia' e 'Venom') parece se acomodar em resoluções formulaicas para a disposição da ação: cortes rápidos em coreografias reais e tomadas extensas em planos onde prevalece o personagem digital. Isso pode soar ruim (e talvez de fato seja, pelo menos dentro da linguagem cinematográfica; afinal, um título como 'Uncharted' carecia de um caráter inovador de algum modo), mas esse aspecto é um fator - dentre os poucos vistos aqui - que de fato aproximam essa salada destemperada da atmosfera dos jogos originais. 'Uncharted: Fora do Mapa' é um filme para assistir despretensiosamente, sem considerar tanto o jogo e encarando, quem sabe, como um prelúdio o que Drake e Sully ainda serão nas telonas em alguns anos. 

Com duas cenas pós créditos e um nítido pudor quanto a violência, fica a impressão de que tornaram um jogo adulto-juvenil em uma crônica caça-níquel infantil, se aproveitando da popularidade de Holland e sacrificando a maturidade de Drake em nome da exploração de uma provável nova mina de ouro. Às vezes mais vale um rostinho bonito do que uma boa história.



Vale Ver Mas Nem Tanto!



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