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'Moonfall : Ameaça Lunar' encena os alarmes do fim do mundo com traços de introspecção | 2022

NOTA  8.0

A lua me traiu...

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Uma das frases mais famosas de Maquiavel (1469-1527), autor italiano do famoso e polêmico livro 'O Príncipe', é aquela que diz "os fins justificam os meios". Parafraseando livremente, sem a intenção de soar maquiavélico (ainda mais por amar os filmes do grande cineasta alemão Roland Emmerich), afirmo que "os meios fazem valer os fins" em 'Moonfall: Ameaça Lunar', que é a primeira grande estreia de fevereiro de 2022. 

O filme tem um terceiro ato que segue a linha de pieguices tradicional de Roland, e, apesar de ter lá o seu charme, corre o severo risco de se tornar esquecível. Contudo, devemos ser honestos com o espetáculo que nos é proposto e entender que o cinema muitas das vezes se faz no caminho e não no destino, e precisamos fazer uma leitura da proposta do diretor na abordagem que opta por fazer para alguns temas. No caso de Roland, cujo estilo já conheço muito bem, a proposta é relativamente simples e uma velha conhecida de seus fãs: consciência e empatia através do absurdo.

Alguns filmes se valem por apenas uma cena, que na maioria das vezes fica lá para o final. O indicado ao Oscar 'Philomena' (2014) é um exemplo perfeito disso; um filme lento, que em alguns momentos perde os espectadores que não se empenham desde o início a acompanhar a jornada de busca da personagem título, mas que se vale com louvores pelo final absurdamente humano, que é como um soco na boca do estômago. No caso de 'Moonfall' ocorre o inverso. O filme inteiro é uma experiência visual fantástica, com efeitos de qualidade e uma atmosfera tensa e instigante, mas que erra a mão justamente em sua conclusão. Da filmografia de Roland, este é o que mais se aproxima de '2012' (2009) principalmente por seus problemas na conclusão. Todavia, nada disso significa que o filme seja, por definição, ruim; pelo contrário, o filme é uma jornada excelente de tensão em constante crescente, com um exercício afiado de levar o público a perscrutar a si mesmo enquanto o mundo é colocado em risco mais uma vez. 

Temos aqui uma equipe improvável formada por Halle Berry, Patrick Wilson e John Bradley-West, que tem um carisma curioso e uma boa química no desenvolver dos perigos que a trama os acomete. Os trailers entregam em bom tom a inclinação ao mistério que permeia a maior parte do filme, e a jornada que se estabelece até os tais fins duvidosos é um suco de ação e suspense temperado com humor e simpatia. O que diferencia 'Moonfall' dos dois 'Independence Day', de 1996 e 2016, é que aqui a carga dramática ganha uma dimensão mais íntima e introspectiva. Existe, é claro, a megalomania típica de Roland, mas a conexão com os personagens é mais hábil e menos caricata (ou estereotipada, se preferir) do que em seus filmes anteriores. O filme passa longe de ser tão denso quanto 'Destruição Final: O Último Refúgio' (2020),  até porque a dimensão da abordagem é totalmente diferente; mas é inegável que o drama tenha ganho um refinamento e tido um destaque a mais aqui. Wilson e Berry, que mais uma vez fazem valer a excelência de suas reputações profissionais, esboçam semblantes de entrega total ao projeto, e isso é belíssimo de se ver dentro do gênero em questão. Filmes-catástrofe tendem a se valer pelo caos e pela enxurrada de efeitos visuais, e 'Moonfall' está aí para mostrar que com um elenco de qualidade até mesmo um filme pipoca despretensioso pode ser uma obra de arte imersiva e emotiva.

Ao contrário de 'Não Olhe Para Cima' (2021)  e do já citado 'Destruição Final', 'Moonfall' não guarda o prometido evento de extinção para o fim e o distribui organicamente em suas duas horas de duração, intercalando eventos terrestres e espaciais. A fantasia que Roland propõe nesse período possui algumas referências empolgadas e presta reverência sutil a alguns dos filmes espaciais mais icônicos do cinema. Apesar da temática, 'Moonfall' é um filme leve e caloroso, que deixa um gancho inusitado para uma possível sequência onde, certamente, Roland dará um jeito de colocar a humanidade em perigo mais uma vez. 


Vale Ver!




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