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'O Páramo': entre o especulativo e o expositivo, novo longa Netflix é desequilibrado da introdução à conclusão | 2022

NOTA 5.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O poder da sugestão é intrigante, muito embora sua abordagem tenha recepção bastante divisiva por parte do público geral, cuja predileção é por histórias mais convencionais, de conclusões fechadas e pouco conteúdo especulativo. O Páramo, recém lançado no catálogo da Netflix, carrega desde sua premissa a dúvida como fio condutor narrativo, deixando lacunas quase que exclusivamente a serem preenchidas por quem assiste, como um quebra-cabeça particular. O “quase” mencionado não é por acaso, uma vez que os diferentes elementos inseridos destoam de acordo que a história avança, tornando a experiência no mínimo confusa, no pior dos sentidos.

Dirigido pelo estreante David Casademunt, a trama se passa no século XIX e acompanhamos uma família que vive isolada em uma Espanha assolada pela guerra, onde o medo e a desconfiança fazem parte do cotidiano. Após um evento traumático, o jovem Diego (Asier Flores) e sua mãe Lúcia (Inma Cuesta), precisarão encarar seus demônios e lutar pela sobrevivência em meio ao questionamento sobre o real e o sobrenatural.

Trafegando em uma linha tênue entre a complexidade e a simplicidade, o enredo se esforça ao explorar temas como obsessão e paranoia dentro de uma estética sombria e minimalista, porém, o longa tem como principal problema o desequilíbrio nas decisões criativas. Com uma direção até certo ponto consistente e consciente de sua natureza subjetiva, a obra apresenta um roteiro permeado de diálogos expositivos, em especial na primeira metade, com uma introdução que não se contenta em apenas mostrar e verbaliza cada novo mistério sem um pingo de sutileza.

Filmes semelhantes em visual e conteúdo, como os excelentes “The Babadock”A Bruxa”, muito conhecidos dos amantes do gênero, conduzem sua narrativa na intenção do espectador experimentar uma sensação semelhante ao que é mostrado, e ao colocar em palavras esses sentimentos, O Páramo nos desloca dessa posição de protagonistas para meros expectadores passivos em uma condução que praticamente nos pega pela mão tentando se explicar, na maioria das vezes sem muito sucesso.

Por outro lado, as atuações são dignas de nota, principalmente a do jovem Asier Flores, que com o auxílio da ótima fotografia, tem suas expressões captadas com precisão seja no desespero ou no mais absoluto silêncio. Inma Cuesta também se destaca, mas ao contrário de Asier, sua atuação cresce na segunda metade e tem ênfase na fisicalidade, convencendo como uma mulher atormentada e à beira da loucura.

O Páramo  aposta na frieza do terror psicológico, mas com um roteiro vacilante, que parece não saber para onde vai, não consegue sair do lugar comum. Variando entre o alternativo e o tradicional, dificilmente irá agradar qualquer um dos públicos já que se por um lado ele pega na mão de uns, tenta soar mais complicado do que realmente é para outros, e nessa mistura improvável de quente e frio, sobra uma trama morna, limitada a vídeos de “final explicado” e destinada a nada além do total esquecimento.


Nem Vale Ver!



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