'A Pior Pessoa do Mundo' : a liberdade que reside na escolha | 2022
NOTA 10
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Dirigido por Joachim Trier, o longa é dividido em prólogo, doze capítulos e um epílogo. Acompanhamos dos vinte tantos aos trinta e poucos anos da vida de Julie (Renate Reinsve), que entre encontros e desencontros nos leva a experienciar as dores da existência, a angústia das escolhas e as maravilhas do acaso.
Candidato da Noruega ao Oscar 2022, 'The Worst Person in the World' (título internacional da produção) vem arrancando elogios nos festivais e premiações por onde passa, além de figurar entre os favoritos na categoria de filme internacional. Toda essa recepção não é exagero, uma vez que após os ótimos 'Oslo, August 31st' (2011), 'Louder Than Bombs' (2015) e 'Thelma' (2017), o diretor norueguês entrega aqui seu melhor trabalho. Dentre todas as qualidades dignas de menção, da trilha sonora à cinematografia, é notável a capacidade do realizador em nos apresentar camadas de alta complexidade com extrema simplicidade. As abordagens são banais e de fácil identificação, aliás, da ironia contida no título ao desenrolar da história é possível estabelecer conexão imediata, basta você ter amado alguém por mais de cinco minutos e vai parecer ter sido feito por encomenda, tornando essa uma obra tão pessoal quanto universal. Temas como amor, ambição, identidade e liberdade, já recorrentes na filmografia do cineasta, são conduzidos não apenas como mero pano de fundo, mas ponto central no fio condutor narrativo.
A atuação de Renate Reinsve, premiada em Cannes, está entre as melhores da temporada e tem como principal destaque a potência com que leva as sutilezas de Julie. A intensidade da performance está em cada grito, sorriso e levantar de sobrancelha. Nela nada parece lembrar um “faz de conta”, com a naturalidade de uma veterana, impressiona ainda mais por ser seu primeiro trabalho no cinema. O elenco de apoio é eficiente, mas a maioria é ofuscado pela protagonista, exceto Anders Danielsen Lie, que é de grande importância no desenrolar dos fatos e está presente na maioria dos momentos de ruptura do enredo, em especial no ato final.
Para deleite de nós brasileiros, em dado momento ouvimos a canção “Águas de Março”, de Tom Jobim, cuja letra carrega como metáfora central a vivência cotidiana que passa e a inevitável chegada do fim, mas como a água, a existência se renova. Assim como as palavras do eterno Jobim, apesar do tom cômico e leveza ocasional, prevalece o sabor agridoce durante toda a rodagem, que de tão envolvente nos faz derramar lágrimas em meio a sorrisos... mas afinal, o que é isso se não a vida?
Super Vale Ver!
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