“Anne Frank, Minha Melhor Amiga” é o resgate de uma amizade em tempos sombrios | 2022
NOTA 7.0
Por Karina Massud @cinemassud
Se você não leu “O Diário de Anne Frank” (1947) é bem provável que já tenha ouvido falar da adolescente judia que escreveu relatos de sua vida no sótão que foi esconderijo da sua família durante a Segunda Guerra, e posteriormente nos campos de concentração judeus, mas que infelizmente não sobreviveu aos horrores do Nazismo pra ver seu livro se tornar um dos mais famosos do mundo.
Inspirado no livro “Memórias de Anne Frank: Reflexões de uma Amiga de Infância”, de Alison Leslie Gold, o longa “Anne Frank, Minha Melhor Amiga”, traz uma visão nova sobre a famosa história. Conhecemos Anne através da perspectiva de sua amiga Hannah Goslar, a Hanneli, quando elas eram melhores amigas de escola e viviam uma vida feliz e despreocupada; até que os nazistas ocuparam Amsterdã, cada uma foi para um lugar e depois se reencontraram num campo de concentração numa situação das mais deploráveis possíveis, mas com o amor e amizade inabalados.
O filme tem uma produção correta, com figurinos e cenografia muito bons, e é falado em holandês e alemão, detalhe que dá bastante veracidade à trama. O roteiro tem alguns furos, no entanto compensa no quesito emoção, nos sensibilizando pela dor alheia diante de tantos horrores injustos. É impossível não se chocar com as atrocidades cometidas nos campos de concentração: experiências médicas abomináveis, a matança em massa dos judeus nas câmaras de gás, a separação de famílias, além de pessoas morrendo de fome e de doenças. Simplesmente porque eram judias, e segundo a filosofia nazista, seres inferiores e sujos que mereciam ser exterminados.
Não há o compromisso rigoroso com o aspecto histórico ou político, que são apenas pano de fundo pra essa bela amizade que transita entre uma vida colorida e calorosa, com passeios no parque, chá da tarde e briguinhas escolares, até o calvário cinza e frio de Auschwitz, onde um triste fim as aguardava.
A trama narra várias partes do “Diário de Anne Frank” que estavam em páginas retiradas por seu pai da publicação original porque ele achou que eram inapropriadas, mas que foram devidamente autenticadas e acrescentadas ao livro após sua morte. São trechos da vida amorosa de Anne, momentos ingênuos e de descobertas normais a qualquer menina na faixa dos 13, 14 anos... Ela pergunta a sua amiga se ela já beijou na boca, de quem ela gosta, confissões sobre o menino que ela está a fim...absolutamente nada que desabonasse a menina aspirante a escritora, que teve seu talento reconhecido postumamente. É importante dizer que Anne Frank é a coadjuvante e o chamariz no título do filme, o que não o diminui em nada.
Depois de várias produções no cinema e na literatura sobre a história imortalizada no diário, o diretor Ben Sombogaart procura aqui mostrar as duas meninas humanizadas e não apenas heroínas icônicas. Elas são simples adolescentes que no início não tem ideia da gravidade do momento em que estão vivendo, tanto que o gatilho da história são as escapadelas de Hannah antes da guerra pra ir ver a amiga no clubinho, e também no campo de concentração na cerca de arame farpado, um dos momentos mais tristes da história. A história de Anne Frank é muito conhecida, mas a de sua amizade com Hanneli não. Uma amizade que poderia ter durado até a velhice se não fosse a guerra, e que agora vem a público, ainda que modestamente, mas não deixa de emocionar.
Vale Ver!
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