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'O Projeto Adam' : Shawn Levy descomplica a viagem no tempo e acerta no entretenimento | 2022

NOTA 7.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 

Embarcar em uma trama de viagem no tempo é arriscado. Na maioria das vezes, os espertinhos apontam as falhas, linhas temporais supostamente bagunçadas e os paradoxos que surgem como capim, quando o intuito claramente não é ganhar prêmios de física por Hollywood, é bem verdade. Filmes descompromissados existem aos montes e encaram a viagem do tempo como forma, não como fim. A trilogia clássica 'De Volta para o Futuro', por exemplo, seguiu este caminho (a 88Km/h, por sinal) ao não se levar tão a sério, deixando que o miolo narrativo pudesse se justificar principalmente pelos dramas ali contidos.

Então, quando Adam (Ryan Reynolds) do futuro encontra o Adam (Walker Scobell) do passado, um garoto de 12 anos que vive com sua mãe e recentemente havia perdido o pai, o choque inicial esperado é menos importante do que a fascinação do garoto por um dia ser diferente. O futuro que importa a ele são os dias melhores, quando não haverá mais garotos na escola que o ridicularizam por sua falta de tamanho ou por sua falta de aptidão atlética. O alívio cômico das situações do Viajante do Tempo desacostumado com a realidade em que cai de paraquedas tão comum em alguns filmes é subvertido para tratar dos porquês que formam o reflexo adulto do garoto reproduzido em três dimensões bem na sua frente.

E desse contato inicial, o garoto prodígio que se infla de teorias logo se vê diminuído pela impaciência de seu eu adulto: “A viagem do tempo é assim e pronto”, diz um Adam futurista e com a barba por fazer. Esta frase é endereçada ao espectador, de igual forma, para conter o ímpeto das perguntas que brotam na mente sobre os princípios físicos do ato. Essa despreocupação faz da viagem do tempo um plano de fundo às possibilidades e é logo confirmada para que não sobrem brechas, algumas vezes através do uso da metalinguagem, com um par de sentenças num diálogo sobre livros, filmes e situações que são externas ao próprio filme e que bastam para o entendimento da lógica de 'O Projeto Adam'.

Nas mãos do diretor, replicando a parceria recente com Ryan Reynolds, as cenas de ação contra capangas envelopados em armaduras tecnológicas a mando de uma vilã relembram a própria gameficação de 'Free Guy - Assumindo o Controle' (2021) e servem apenas para que a jornada do herói ganhe em urgência. É um espetáculo visual, que entre uma música de rock and roll e outra, visa ainda preencher de sonoridade a opção pelo frenesi recheado de computação gráfica. Sobre isso, poderia ainda comentar o burburinho sobre o rejuvenescimento da vilã Maya Sorian (Catherine Keener), mas, a meu ver, exigir o realismo visual num filme fantasioso nos colocaria numa encruzilhada igualmente paradoxal a própria viagem do tempo e não teremos tempo para isto também.

Não fosse alguns diálogos expositivos, mastigando as resoluções a um público-alvo mais familiar, o filme poderia muito bem ser elevado a uma outra prateleira. O bom drama familiar, que ainda conta com a réplica da dupla Mark Ruffalo e Jennifer Garner de 'De Repente 30', instiga a reflexão sobre estar presente à família e aproveitar os momentos sempre que possível e para que não seja necessário voltar no tempo para corrigir alguns erros tão infelizes.

Outra vez a Netflix aposta em uma grande produção encabeçada pelo carismático Ryan Reynolds, em um papel confortável e eficiente ao ator. 'O Projeto Adam' é um filme leve, acerta no que se propõe a fazer, mesmo que para isso seja preciso desconsiderar todas as leis da física para que uma bonita história da relação entre mãe e filho possa tomar a tela. 


Vale Ver!




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