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'Caranguejo Negro' : a distopia e a importância das 'últimas chances' | 2022

NOTA 6.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 

Quando se arrisca uma última jogada, como um arremesso com o cronômetro prestes a estourar em um jogo de basquete, um breve segundo que antecede a ação é inundado com esperança. A esperança que digo, dentre suas aplicações possíveis, é a própria  iniciativa de escapar da inércia e arriscar, esperando que o destino faça todo o resto. É interessante pensá-la (esperança) como uma antítese perfeita à sua falta, é claro, mas é que esse oposto é também o nada, o vazio e, por consequência, a falta de movimento - e o Cinema precisa de conflitos que movimentem seus personagens, não é?

Ao apostar nesta relação de causas e consequências, no drama sueco 'Caranguejo Negro' vemos uma jornada por um mundo pós-apocalíptico, onde uma mãe embarca em uma missão paramilitar com a esperança de poder encontrar sua filha outra vez.

Eu particularmente gosto desse confronto com o “e se”, quando é visível em tela um futuro que seguiu por linhas tortas, seja pela natureza querendo reaver seus espaços naturais ou pela falência múltipla de um Estado. Seja como for, esse pessimismo serve somente para pintar um plano de fundo que o diretor Adam Berg usa para contar uma outra história, a de Caroline. Por esse motivo não explica o que levou a sociedade àquele momento, da neve que cai desproporcional em grandes quantidades e das guerras mesquinhas de alguns que se aglutinam em grupos paramilitares. A verdade é que somos lançados sobre uma história em andamento, em movimento.

A contar a narrativa, à composição faltam texturas, faltam detalhes. A habitual liberdade branca e insossa de um lugar tomado pela neve, é somente o  desafio e serve para colocar Caroline tão pequena frente a uma realidade que irá encarar em seu trajeto pelos lagos congelados que torce (aquela 'velha esperança') para que não se rompam enquanto patina sob a superfície.

Penso que não há nada visualmente primoroso nessa composição que o diretor escolhe, ao menos nada que o diferencie de seus competidores que também gostam de adivinhar futuros mais pessimistas. 

O destaque fica na belíssima atuação de Noomi Rapace ('Prometheus'), que consegue extrair do olhar desgastado o sentimento de uma mãe que há pouco havia perdido o mais importante de sua vida. E assim,  Caroline sobrevive à maneira que consegue, refém do tempo, das pessoas e da esperança.

E o pessimismo que o diretor usa para destruir suas locações, facilita que mostre, mais tarde no terceiro ato, um lado mais obscuro da sociedade. A missão de levar um recipiente capaz de encerrar a guerra, diziam seus superiores, revela a Caroline algo muito mais importante sobre a humanidade.

Dessa jornada cambaleante, como consequência das dificuldades, surge uma heroína para esta história, que logo se assume como um mártir em busca de um palco para saltar, fazer o caminho até ali ter valido a pena e não depender mais dos caprichos do destino. Tudo isso acontece quando lhe tiram a sua última chance, a única coisa que a fazia se mover: sua esperança.


Vale Ver Mas Nem Tanto! 



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