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'Os Caras Malvados' faz aposta arriscada com mistura frenética de conceitos | 2022

NOTA 7.0

É por isso que eu sempre ando com duas fatias de pão 

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Animações que apresentam animais com traços comportamentais e interações sociais que se assemelham aos dos humanos possuem um apelo enorme com o público infantil - e nos últimos dez anos a vertente de animais que cantam e convivem em estruturas comunitárias iguais às nossas tem crescido exponencialmente. Um par de exemplos recentes é 'Sing 2', da Sony Pictures, lançado aqui no Brasil em janeiro deste ano, e 'Zootopia' (2016), ambos trazendo ao seu próprio modo um paralelo entre as personalidades de seus personagens e o estereótipo de cada um. Algo semelhante acontece em 'Os Caras Malvados', que chegou recentemente aos cinemas sob o selo DreamWorks; o estereótipo dos predadores e a fama de maus, trapaceiros e traiçoeiros é algo que a equipe protagonista carrega sob a pele de suas respectivas espécies. Temos um lobo, uma tarântula, um tubarão, uma cobra e uma piranha - isto é, convivendo com humanos como se fosse algo plenamente normal, o que pode causar uma certa estranheza em princípio.

Contudo, apesar de possuir algumas semelhanças com o oscarizado 'Zootopia', não há como encontrar aqui uma complexidade de camadas e textos equivalentes; o máximo que se extrai de 'Os Caras Malvados' é uma lição fofa sobre redenção e confiança (ou a quebra dela, no caso). O filme é uma série de aparentes incoerências aos adultos, com questões do tipo "por que é que não são todos animais logo?", "de que jeito esse tubarão vive fora d'água?", "como é que animais e humanos convivem civilizadamente numa boa e um animal foi eleito ao governo?", e ainda "por que é que alguns animais são humanóides e outros continuam irracionais?" (estou falando de um gato numa árvore). Pode parecer que isso venha a se tornar um demérito do filme, mas não podemos nos esquecer de a qual público ele é endereçado. A criançada adorou a sessão em que estive presente, e após alguns minutos de rodagem os tais questionamentos conflitantes se perdem no entretenimento que a obra promove, com uma trama escapista e bem elaborada que apresenta com muita graça o universo de reviravoltas típico dos filmes de assalto.

O roteiro de Etan Cohen (não o confunda com Ethan Coen) é construído com uma dinâmica de quebra da quarta parede que convida o público a ser cúmplice dos tais caras malvados enquanto seus atos questionáveis são justificados de acordo com a apresentação que o Sr. Lobo faz de cada um. A empatia que o público logo adquire com relação aos ditos vilões que sentem pela primeira vez a alegria que a proatividade promove é algo bem elaborado e encaixado pelo roteiro de Cohen, principalmente com a questão do julgamento de caráter que se faz sobre cada indivíduo. Esse bom desenvolvimento se dá também, em grande parte, pelo elenco de dublagem tanto original quanto brasileiro, que expressa em atuações vocais deslumbrantes os conflitos internos e emocionais de cada um. Em inglês temos Sam Rockwell, Awkwafina, Craig Robinson e Marc Maron, enquanto em português temos Rômulo Estrela, Luis Lobianco, Nyvi Estephan, Agatha Moreira, Sérgio Guizé e o queridíssimo Babu Santana. 

O estilo de animação adotado aqui é uma mistura curiosa de 3D com os traços do 2D tradicional, com o rendimento de alguns recursos visuais que saltam quase como onomatopeias e cartoons japoneses. Falta, é claro, a definição de si mesmo como ocorreu com 'Homem-Aranha no Aranhaverso' em 2019, que encontrou seu lugar no meio do caminho entre os dois estilos e entrou para a história do cinema - mas isso não impede em nada que 'Os Caras Malvados' seja um entretenimento casual capaz de divertir tanto as crianças quanto os adultos, com algumas piadas especialmente para esse segundo público (além de coisas de quinta série que também estão presentes, como uma frase maravilhosa que diz "Eu não disse pra vocês que era uma bunda?". Enfim, misturando conceitos tanto visuais quanto naturais, 'Os Caras Malvados' tem seu mérito pela ousadia de arriscar uma combinação pouco vista nas animações do século XXI, igualando as condições humanas e animais em uma utopia caricata e ainda apresentando uma trama sobre crimes sem necessariamente fazer apologias ou banalizações ao erro. Se me pedissem para resumir a obra em uma única frase, eu diria: é um 'Onze Homens e um Segredo' do bem e feito para crianças. 


Vale Ver!



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