'Fresh': uma deliciosa e exótica surpresa | 2022
NOTA 8.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
O relacionamento contemporâneo é uma temática explorada a exaustão na indústria cinematográfica, em especial nos últimos 20 anos graças aos avanços tecnológicos, de inteligência artificial e do advento das redes sociais, que causaram verdadeira revolução na forma com que nos relacionamos. Entretanto, mesmo presente em diferentes gêneros e nos mais variados tipos de abordagem, a repetição dos argumentos levou o assunto à um nível de saturação onde muito pouca coisa nova é dita e as tramas quase sempre caem num lugar comum desinteressante e genérico. Felizmente “Fresh” passa longe desse cenário decadente e apesar das obviedades no discurso e pouco a acrescentar em termos narrativos, propõe uma experiência visual e atmosférica bastante peculiar.
Dirigido pela estreante Mimi Cave, a trama acompanha Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem frustrada que após uma série de encontros insatisfatórios tendo aplicativos como ponto de partida, conhece o charmoso Steve (Sebastian Stan), porém, aquilo que parecia o mais tradicional romance urbano se transforma em pesadelo ao se deparar com um submundo de hábitos excêntricos e apetites incomuns.
Flertando com um humor atrevido e ousado, o longa segue uma estrutura de progressão bastante habitual, mas que convence num primeiro momento, em parte pelo carisma da dupla de protagonistas de modo que ao propor uma ruptura ainda no terço inicial, essa química deixa resquícios muito bem aproveitados em todo seguimento do enredo. A edição é ágil e valoriza tanto as expressões faciais quanto um certo tom jocoso que, auxiliado por uma trilha sonora vibrante, se contrapõe ao absurdo apresentado em tela, numa contradição proposital que leva a alguns pontos centrais da proposta, como a estranheza e a repulsa.
A forma “higienizada” com que expõe cenas que causam nojo e aversão, não é casual. Diferente dos “torture porn”, que tem seu apelo na exibição sádica da tortura e mutilação, como os famosos “O Albergue” e “Jogos Mortais”, “Fresh” tem muito pouco interesse no banho de sangue ou na exposição gratuita do absurdo.
Mais recente adição do catálogo da Star+, “Fresh” entrega um resultado diferenciado em meio a diversas convenções do gênero, inovando sem grandes pretensões, abusando do humor ácido e o melhor, sem nunca se levar a sério demais.
Vale Ver!
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