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'RED: Crescer é uma Fera' : uma emocionante história de amadurecimento | 2022

NOTA 9.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo

Que a Pixar costuma esconder discussões importantíssimas na superfície, detrás das cores vívidas, dos traços e dos detalhes computadorizados que beiram a perfeição, não é novidade. Como forma, as animações lideradas pelo estúdio de tantos personagens marcantes, são uma amálgama de boas intenções em recursos narrativos que suavizam e projetam, por isso, as reflexões diretamente ao espectador do lado de cá.

O grande trunfo, a meu ver, está na habilidade em criar duas narrativas paralelas, mas dependentes, visando agradar tanto o público infantil, quanto a geração que os vigia de perto. As mensagens aos adultos massageiam o ar responsável destes, enquanto os pequenos apenas se divertem com as músicas e as expressões simpáticas dos personagens.

Em 'RED: Crescer é uma Fera' não é diferente. Mei Mei é uma garota sino-canadense que ajuda os pais a cuidar de um Templo situado em Toronto, ao passo que leva uma vida normal aos seus 13 anos. Desde sua primeira aparição já demonstra ser independente e dona de seu destino, vista de perto por sua mãe, uma mulher superprotetora que sente a conexão com a filha perder força conforme ela avança na puberdade.

A ambientação inicial dá conta de expor a multiculturalidade porque o país é reconhecido, ao abraçar as mais diversas culturas e origens e jogá-las em tela sem sobreaviso e com total naturalidade. Esse espaço serve também para o conhecimento da cultura de Mei e a importância do conservadorismo neste caminho. É por isso que a mãe não entende a paixão de sua filha por uma boy band moderninha, os 4-Towns. Assim, esse primeiro conflito evoca o choque ao que é tradicional ao mesmo tempo que dá pistas de um crescimento da garota longe das ‘asas’ da mãe.

“É que são os 4-Towns”, Mei Mei poderia dizer cabisbaixa com medo de uma repreensão. Então, a garota e suas amigas transformam seus dias para arrecadarem dinheiro para o show que é caríssimo a um grupo de crianças (sabemos bem). Até que Mei inesperadamente se transforma em um Panda Vermelho gigante, quando está emocionalmente ‘diferente’, seja por angústia, medo, tristeza ou mesmo empolgação.

As analogias fazem desta uma animação que amadurece na memória com o passar do tempo. A figura do Panda, agora externa para Mei Mei e todos à sua volta, indica um passo delicado para a feminilidade da garota pela puberdade.  – pelo tom que o assunto demanda, encorajo você, leitor, após a leitura deste, procurar também por análises escritas por mulheres com o protagonismo para esta fala.

Mas voltando ao fio que tento desenrolar, há outros traços dramáticos e toques refinados em RED. A diretora Domee Shi que, inclusive, é a primeira mulher a dirigir um filme da PIXAR, explora no seu primeiro longa-metragem a relação conflituosa de Mei com a mãe, numa forma de olhar a situação que relembra BAO, curta-metragem ganhador do Oscar que dirigiu em 2018, em que tratou sobre a Síndrome do Ninho Vazio pela independência e os voos solos alçados pelos filhos, naquela oportunidade um pãozinho chinês. Assista!

Mas este trem já partiu e Mei Mei está crescendo. Agora o papel de acolhimento é também das amigas, que passam pelo mesmo, é verdade, e como uma girl band, cantam e se vestem em cores que as diferenciam na forma que cada uma lida com o próprio crescimento, como se ainda pudessem representar um certo conforto emocional ao jovem panda.

Era de se esperar esse papel importante das cores na construção. A personalidade da protagonista se molda sobre os vermelhos que tomam o protagonismo à força das cores insossas que puderam servir de plano de fundo, pois além de tudo que é íntimo a ela e está na composição a quem quiser ver, as cores conduzem também suas mudanças físicas na contramão.

Outra alegoria que pude encontrar está na própria figura do panda gigante como um animal 'interior', se possível escolher um “rosto” identificável a ele, como algumas culturas fazem. É igualmente reconfortante pensar que confrontamos um eu animalesco em nós mesmos que, de fato, é por vezes confuso e assustador, por vezes confiante e expansivo, e que deste embate, somos moldados e carregamos conosco esta marca, num amontoado de traços de personalidade que pouco entendemos a origem.   

A animação 'RED: Crescer é uma Fera' se estrutura no habitual amadurecimento, seja de Mei ou mesmo da própria mãe e cria um cone imenso de oportunidades para debater muito mais. É mais um dos grandes filmes da Pixar que já alça seu voo solo e torço para que esteja nas premiações do próximo ano.


Super Vale Ver!




 

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